quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Gran Hotel
O Gran
Hotel, se é que não estou confundindo o nome, já tinha deixado para trás os
seus momentos mais gloriosos quando lá me hospedei nos princípios da década de
90, em minha primeira visita a Montevidéu.
Se é que
me lembro bem das circunstâncias dessa minha ida ao Uruguai, passei lá duas ou
três semanas, ainda no início de minha carreira acadêmica, ministrando um
minicurso. E o hotel, imponente em suas pretensões mas um tanto quanto
decadente em seu cotidiano, deixou-me marcas. Aprendia naqueles dias a gostar
daquela cidade, daquele país, um lugar para se retornar sempre que possível.
Do
hotel, lembro-me do quarto com móveis velhos, do ranger da grande escadaria
que, por vezes, preferia ao elevador de portas pantográficas e temeroso que me
deixasse pelo caminho. Lembro-me do cassino no andar térreo em que gastava meu
tempo depois do jantar, só olhando, na penúria que eram aqueles tempos. No
último dia, contei as moedinhas e me arrisquei a jogar. Perdi tão rapidamente
que nem dá para dizer que, digamos, perdi
o dinheiro do cineminha, talvez o do curta metragem, talvez o do trailer...
Em todo o caso, foi a única vez que perdi dinheiro em um cassino...
Lembro-me
do final de semana em que houve uma festa de casamento no térreo do hotel e da
barulheira subindo pelas escadas curvas e direcionada inevitavelmente para o
meu quarto. O arquiteto projetou bem o ambiente, nenhum ruído da festa se
perdeu pelo caminho, nada foi desviado do meu quarto que foi o buraco negro do
universo sonoro daquele final de semana. Aparentemente, eu era o único hóspede
que não tinha alguma ligação com o casamento. Pensei em reclamar mas, o que
esperar? um pedido de desculpas e um adiamento no casamento para algum final de
semana em que eu não estivesse presente? Antes, e principalmente depois, minha
cara serviu para muitos darem risadas mas naquele improvável momento de
sensatez evitei que esse número fosse mais alto ainda...
Lembro-me
da Rambla, por onde gosto de andar, caminhar vendo o rio amarronzado, desde
sempre, rio esse que eu via, meio que de viés, da janela de meu quarto no Gran
Hotel. E lá cantarolar, em momentos de melancolia, a música Cais.
Lembro-me
de caminhar pela cidade, do cineclube perdido em uma daquelas inúmeras ruas
iguais daquele quadriculado que é Montevidéu. Das comidas engorduradas com
queijo e molho de tomate em abundância, da ausência de salada, não que eu
sentisse falta, mas isso chamava a atenção. Dos botecos, lembro, dos
restaurantes italianos, lembro, sim, das casas de assados...
E, por
falar em cassino, lembro-me das mesinhas improvisadas por caixas de papelão,
onde incautos deixavam o seu dinheiro na ingênua expectativa de descobrir onde estava
a bolinha felpuda e colorida, em baixo de qual das três copinhas de alumínio
ela se escondia. Por vezes, descansava de minhas longas caminhadas pela cidade
só olhando a cena que se repetia, se repetia nas tradicionais feiras de final
de semana. O jogador escondia a bolinha debaixo de uma das copinhas e brincava
com elas de um lado a outro para alguém descobrir onde ela estava. Um parceiro,
que se olhássemos bem estava mais interessado em olhar o entorno, apostava vez
ou outra e, adivinhando corretamente onde estava a bolinha, dobrava o dinheiro
investido, incentivando os passantes a fazerem o mesmo. Só que na hora agá, a
bolinha não estava onde deveria estar, que pena, mais um transeunte irritado
perdia o seu dinheirinho. No meio disso, de repente passava alguém correndo e
tudo era desmontado em um segundo, caixas de papelão voando pela calçada e pretensa
correria. Fazia parte do show esse teatrinho, e logo tudo estava de volta e a
procura pelos ingênuos prosseguia.
A mesma
cena, eu as vi em outros lugares, muitos outros foram enganados, mas foi lá que
a memória deixou registrada.
Lembro-me
da 18 de Julio, e minha longa
caminhada por ela. A praça da independência, o Teatro Solís, as lojas fechadas na
Ciudad Vieja que tanto parece o
centro dominical de São Paulo. O assado no porto da cidade. Os sebos da Calle
Tristán Narvaja onde procurei, inutilmente, uma cópia do esgotadíssimo El país de la cola de paja. As viagens noturnas
de ônibus, o sorvete na frente do Palácio Municipal, as meninas que me
perguntaram as horas piscando e sorrindo um sorriso interesseiro, mas franco.
E sim,
foram ao menos dois finais de semana pois, lembro-me agora, além do casamento,
teve aquele em que acompanhei um colega para a fazenda da família. Luz de
lampião, bem rural, interiorzão do Uruguai, presenciei, no domingo, o cruel
ritual de castração dos novilhos. Sabe-se lá por que certas imagens ficam, e
outras não.
E lembro-me da camiseta que
voltou destruída da lavagem, queimada pelo ferro de passar, no Gran Hotel. Isso
eu reclamei e ganhei um desconto em uma diária. O que fazer? ao menos não me
cobraram a lavagem da agora imprestável camiseta.
Montevidéu
ficou e ainda fica presente em minha memória, nos longos passeios pela Rambla,
na carinhosa visita dela que tive no hotel, outro hotel, outros tempos, nos
jantares em casas de amigos por lá, no clima amistoso que essa cidade pode
proporcionar.
O Gran
Hotel hoje é um escritório, se não me falha a memória, do Mercosul. Passei por
lá, na última vez, em minhas andanças pela Rambla. Todo imponente, nem parece
que um dia me abrigou lá, nem que deixei minhas moedinhas de final de viagem no
cassino em seu andar térreo.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
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