quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Planeta na escuridão.



            É certo que ano bissexto demora mais para acabar, mas esse já está exagerando...
            Encontramos o Thio Therezo na varanda olhando o céu escuro, porém sem nuvens a ocultar estrelas e planetas. Era um daqueles dias em que desejar um feliz Natal já se tornara extemporâneo mas, ainda, com a vívida expectativa com a chegada de um novo ano, como se isso fosse mudar algo.
            Ele nos viu chegar, acho que gostou de ter a nossa companhia por lá naquele momento. Finalmente, disse:
            - Que ano, cara! que ano... não acaba nunca!
            Um olhou para o outro e não havia o que responder...
            - ... e ainda mais, ano bissexto... um interminável dia a mais...
            Nos ajeitamos nas poucas cadeiras de nossa varanda e ele nos contou uma estória, uma de suas estórias que tanto gostávamos de escutar. Contou-nos sobre aquele final de ano que ele passou na sua republiqueta predileta, a Republiqueta de Hygina, lugar onde tinha tantos amigos e parentes distantes. Estava lá ele junto com um grupo em um observatório e tinham descoberto indícios de um novo planeta, restava pouco para fazerem os cálculos e as observações finais para a certeza definitiva. O Thio contava isso olhando para a escuridão bem à frente de nossa varanda. E tudo daria certo se algo inusitado não tivesse atrapalhado os planos de todos eles.
            Sabíamos que o Thio nos contaria o que aconteceu de qualquer maneira, mas nessas horas é importante mostrar interesse, e o fizemos.
            - Thio, mas tão perto assim da descoberta desse novo planeta... o que aconteceu? - eu perguntei.
            Ele ainda olhou o céu e contou-nos. Disse que meses antes de sua chegada ao observatório o presidente daquele país tinha morrido e o vice assumira. Rumores, nunca confirmados, indicavam que o presidente tinha sido envenenado pela oposição que não tinha se conformado com a derrota na última eleição.
            - Mas apesar de muitos estarem convictos dessa hipótese de envenenamento e, também, da efetiva participação do vice na trama, nada foi confirmado e a vida seguiu. De início, aquele vice até que era conveniente à oposição que virara situação...
            Ouvíamos atentos ao Thio... e ele nos contou que, com o tempo, e nem foi tanto tempo assim, a oposição que virara situação com a morte do presidente resolveu não esperar a próxima eleição e começou a queimar politicamente o vice que se tornara presidente. De vaso decorativo ele tinha passado a mordomo decorativo mas estava pondo as manguinhas de fora, o que não agradara ao grupo que o apoiara inicialmente. O que salvava temporariamente o vice de morrer supostamente envenenado era uma regra da constituição. Se algo acontecesse ao vice, morte ou renúncia, ainda naquele ano, teria que haver uma nova eleição. Caso a morte ou até a improvável renúncia acontecesse a partir do primeiro dia do ano seguinte o congresso da republiqueta elegeria indiretamente um novo presidente, opção preferida daquela oposição ruim de votos...
            - ... mas o vice tornado presidente tinha outros planos... - o Thio continuou a contar - No dia 29 de dezembro, ele renunciou... assim, do nada...
            Silêncio... e eu falei para que a estória continuasse:
            - ... e aí chamaram novas eleições...
            - ãh? - o Thio estava absorto com a escuridão do céu à sua frente.
            - eu perguntei se chamaram novas eleições...
            - ah... não...
            - não? como assim, não estava na constituição? houve um golpe?
            - golpe? não, foi tudo dentro da lei, ao menos essa foi a versão oficial. O STF deles reinterpretou o calendário e chegaram à conclusão de que aquele dia 29 de dezembro pertencia de fato ao ano que iria iniciar e não ao que estava a acabar e, portanto, de acordo com a constituição, o congresso escolheria um novo presidente... tudo legal...
            O Thio então nos contou que a polícia federal deles, a mando de um juiz-promotor que habitava aquele país, foi até o observatório onde ele e seus colegas pesquisadores estavam pesquisando, foram em busca de uma declaração científica que suportasse a decisão do STF, mesmo que essa fosse obtida coercitivamente. Qualquer coisa... algo como a ação de raios beta que interferiram no funcionamento celeste e que teria atrasado, ou adiantado, o calendário, tanto faz, escreve qualquer merda aí que depois a gente acerta isso... as pessoas aqui acreditam em tudo que os iluminados dizem mesmo...
            Nem seria preciso dizer que eles se recusaram a assinar isso. Na confusão que se formou, o Thio e mais dois colegas, um deles um primo distante, conseguiram escapar e, naquela mesma noite, nosso querido Thio saiu clandestino do país. Certo é que ele fugiu fantasiado de Galileu, o que chamou um pouco a atenção no aeroporto, mas, dadas as festas de finais de ano, aquela era uma fantasia perfeitamente aceitável. Os outros amigos do Thio foram presos e todos os dados do novo planeta sumariamente destruídos.
            Enquanto esperava por um dos voos para voltar para casa, já em outro continente, o Thio soube que, após a decisão do STF deles, o congresso, no mesmo dia, elegeu e empossou um ex-presidente que tinha saído pelas portas dos fundos e que voltava sem ter tido um voto popular sequer.
            O Thio acabara de contar a sua estória e ficamos todos olhando o céu.
            - Querem saber? O planeta fica naquela direção, ainda iremos mostrar que ele existe e está lá... essa escuridão que vocês estão vendo há de acabar...
            Olhávamos para onde ele apontava quando repetiu:
            - Essa escuridão há de acabar...
            Nessas horas, não há muito a se falar. Estávamos cada um agora entretido com o seu próprio sonho de planeta a ser descoberto, cada um com o seu...
            - Ei, garoto - o Thio falou finalmente - vai buscar o tabuleiro para jogarmos uma partida, uma última antes que esse ano finalmente acabe.
            Eu fui.



Feliz 2K17 para todos !!!!






Lançamento de Livro. O meu novo livro, "Pigarreios", será lançado em Portugal no dia 11 de janeiro, na Chiado Café Literário, Av. da Liberdade, 180 D, em Lisboa. Em março, lançamento em São Paulo. Todos estão convidados!!!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Seis propostas para matérias de TV nessa época natalina - parte II

    
        Na semana passada, estávamos comentando as sugestões do Thio Therezo para matérias de final de ano daquela rede de televisão. Após quatro sugestões bem aceitas pelos produtores, e ainda terminando o almoço, o Thio, talvez animado pela grande receptividade às suas propostas, arriscou sugerir uma matéria que há muito gostaria de ver. Ele comentou sobre como alguns esportistas (vivos ou mortos) e mesmo alguns narradores se diziam tão brasileiros, se emocionavam às lágrimas quando o nome do Brasil era mencionado, esbanjavam aquele nacionalismo típico, tanto que tudo aquilo até parecia tão sincero... Mas os próprios tinham residências fiscais e offshores no exterior só para poder sonegar imposto por aqui. Um produtor olhou ao outro, pareciam desconfortáveis com essa ideia, mas o Thio não percebeu isso a princípio. Enquanto saboreava o seu doce de leite com queijo mineiro, o Thio ia descrevendo a primeira cena da matéria, o repórter chegando na suposta residência no exterior (que fora informada para efeitos fiscais) e encontra nada mais que um escritório fechado, cinco metros quadrados a serem divididos por centenas de brasileiros, esportistas e narradores esportivos incluídos... O Thio estranhou o silêncio e perguntou: “não gostaram da estorinha? a gente arruma outra... tem um juiz que...” ao que um produtor respondeu que talvez o assunto não fosse o adequado para essa época do ano, ainda mais que a palavra chave era multiplicidade. O Thio não entendeu porque, na opinião de seus interlocutores, a palavra chave não estava se encaixando à sua sugestão. Mas, tudo bem, vamos lá, vamos mudar o foco. Sugeriu então que se entrevistassem pessoas naquelas filas quilométricas que se formam por conta da megasena da virada. Aqui, é fácil se achar uma estorinha para contar. Ou, pra variar, poderíamos conversar com várias pessoas, perguntar o que fariam com o prêmio se ganhassem tal bolada. Isso, multiplicidade! A matéria poderia começar com algo do tipo “o melhor do Brasil é o brasileiro” e seguir entrevistando o pessoal, cada um dizendo que a primeira coisa que faria se ganhasse aquela montanha de dinheiro seria ajudar alguém, algum parente, algum amigo, ou mesmo algum desconhecido, doar o dinheiro para instituições... É para isso que se joga na megasena, nunca por motivos egoisticamente pessoais, mas sempre para ajudar alguém... Closes incluídos, o amor pelo próximo transbordando nas declarações. E os produtores, cabeças baixas anotando os detalhes da matéria, voltaram a ficar de bem com o Thio Therezo.
            Café harmonioso e, depois de uma pequena pausa necessária a todos, voltaram para a sala de reuniões para a última matéria, consistência era a palavra chave.
            Após uma troca de ideias, ficou acertado que essa última matéria seria sobre a crise econômica. O Thio então sugeriu contar a estorinha, com imagens e acompanhamento do dia a dia, daquele ex-diretor da turma do Pato que é campeão de sonegação de impostos, algo como quase 7 bi de impostos devidos e não pagos. O Thio se entusiasmou e até bolou uns gráficos mostrando o quanto de casas populares esse valor poderia construir... silêncio constrangedor...  ou leitos de hospital... mais silêncio constrangedor... ou salas de aula... Bom, o Thio percebeu que não agradava. Que tal essa, então? Todos se alegraram, o Thio ainda tinha algum crédito com eles. Poderíamos acompanhar aquele admirado e premiado diretor-presidente de uma grande rede de supermercados que tem como salário R$ 1,00 mas que vive de dividendos da empresa. Talvez fazer um gráfico comparando o quanto esse indivíduo paga de imposto de renda, isto é, zero de nada por conta da isenção de IR para dividendos de empresas, e o quanto aquele professor tem que pagar IR todo mês sobre o salário que já é pouco... silêncio constrangedor... “Thio, você não entendeu o espírito, queremos falar da crise, de soluções...” um produtor interrompeu. “Ah! de soluções... talvez uma matéria sobre caça aos sonegadores, que o dinheiro sonegado pode ser uma solução, ou uma matéria propondo que se pague IR por dividendos de empresas... e um gráfico colorido mostrando quanto se arrecadaria em um e em outro caso... tenho até umas ideias aqui de comparação...”
            Silêncio constrangedor... “Thio, acho que deveríamos talvez focar no problema da previdência...” argumentou um produtor mais jovem, última tentativa de trazer o Thio de volta à razão. “Boa idéia, pessoal”, o Thio concordou e seguiu “poderíamos, por exemplo, contar a estorinha daquela atriz cujo pai foi um desembargador e que recebe uma substanciosa pensão vitalícia sem nunca ter contribuído, apenas por ser filha solteira do desembargador... a gente poderia mostrar a família dela, seu filho universitário, seu companheiro e...” silêncio constrangedor, maior ainda... “... esquece a atriz, talvez a filha dentista e solteira daquele militar e que ainda também recebe uma mais substanciosa pensão, mostrar as filhas dela, os netos, o terceiro companheiro... talvez, em contrapartida, entrevistar a filha daquele professor que morreu e que não recebe pensão, apesar de ser solteira também...”
            Nessa hora, a porta se abre e alguém entra dizendo: “Thio, o carro para o aeroporto está esperando, você não vai querer perder o voo para São Paulo, vai?” Todos então agradecem efusivamente o Thio e o deixam ir, ele que não tinha ainda completado suas ideias para a matéria sobre a previdência, tinha aquele ideia de se investigar onde tinha parado o dinheiro arrecadado...
            A sexta matéria, mostrada em destaque no jornal noturno, com gráficos e tudo o mais, mas sem estorinha dessa vez, foi sobre como os aposentados e os que se aposentarão estão levando esse país à bancarrota...



Um feliz Natal a todos !!!!!






Lançamento de Livro. O meu novo livro, "Pigarreios", será lançado em Portugal no dia 11 de janeiro, na Chiado Café Literário, Av. da Liberdade, 180 D, em Lisboa. Em março, lançamento em São Paulo. Todos estão convidados!!!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Seis propostas para matérias de TV nessa época natalina - parte I


Mês e meio atrás, pouco mais, pouco menos, Thio Therezo foi chamado por uma grande emissora (que eu não nomeio aqui, que bobo não sou...) para uma conversa. Volta e meia, ele é chamado a assessorar a equipe de produção dos programas de entretenimento dessa emissora, quer dizer, ele é convidado a dar o seu pitaco em qualquer um dos programas.
            Estavam eles atrás de ideias e, de falta de ideias, o Thio Therezo não sofre desse mal. Reunião, todos a postos, café tomado, as usuais conversas triviobanais introdutórias já feitas, piadinhas e agora é sério, vamos discutir.
            A primeira proposta de matéria sugerida pelo Thio vinha com o símbolo da leveza. Que tal falar sobre aqueles papais noéis de ocasião? Daquele cara que padece o ano todo com a aposentadoria pífia e que no final do ano vira um papai noel de shopping? “Mas tem que ter estorinha...” o Thio falou. “... estorinha, como assim?” perguntaram. É, estorinha. O repórter escolhe um desses caras e o acompanha durante o dia todo, a viagem de trem até o bairro nobre, faz uma entrevista enquanto ele se prepara para viver o papai noel. Tem que ter close, viu? insistiu o Thio, mostrar as rugas do tempo, mostrar a tristeza que se transforma em sorriso quando ele vê uma criança, e o papai noel tem que dizer que essa é a sua melhor recompensa: o sorriso de uma criança... Close nessa hora, viu? Se ele parecer emocionado, olhos umedecidos, melhor ainda! Mas essa frase tem que aparecer, afinal é Natal! Todos anotaram as observações e o Thio fez uma pausa.
            Pra uma segunda matéria, rapidez. É preciso que um repórter acompanhe o ritmo frenético de uma consumidora que tem apenas algumas horas pras todas as suas compras de Natal na 25 de março. “Estorinha aqui também?” perguntaram. Sim, estorinha, sempre estorinha... Pra essa matéria, talvez um pouco de humor, a câmera acelerada atrás da compradora, entra na loja, sai da loja, atravessa a rua, tomba com outros compradores na rua superlotada, deixa cair pacotes, e o repórter esbaforido atrás... “Ah, precisamos de um que tenha fôlego”, lembrou um dos participantes da reunião. “Não”, Thio Therezo retrucou, “se ele se mostrar cansado e sem fôlego, desesperado atrás da acelerada compradora, a matéria funciona melhor, muito melhor. Os pequenos detalhes é que importam”. Ah! e lá vão eles anotarem a dica. Mas, o Thio enfatizou, o importante é mostrar sentimento, os personagens têm que ter nome, voz. Chorar, talvez? “Não nessa matéria”, Thio argumentou. É claro que close em pessoas chorando aumenta o ibope, é sempre bom explorar isso, principalmente nas matérias noturnas, que pegam os telespectadores cansados e estressados. Mas nessa estorinha, não... toque de humor, sim...
            Exatidão, a palavra chave da terceira matéria proposta pelo Thio Therezo. É claro que o apresentador poderia dizer simplesmente: “o preço do perú nesse Natal está 10,95% mais caro do que no ano passado” e pronto, a informação já está dada. Mas qual a graça? Nosso papel é entreter, e notícia é entretenimento! A matéria então deve começar com o repórter na cozinha da dona Nicéia dizendo: “todo ano, a dona Nicéia prepara o seu delicioso perú para a ceia de Natal, não é mesmo, dona Nicéia?” e dona Nicéia para de mexer na panela e responde, olhando para a câmera: “é, sim, eu preparo o perú todo ano, com amor e carinho para os meus netos...”. Close na cara da dona Nicéia pra enfatizar o amor que ela sente pelos netos, mostrar sentimentos, afinal é Natal! “E esse ano não será diferente, não é mesmo, dona Nicéia?” o repórter pergunta e recebe como resposta uma cara enigmática. Corte de imagem. Agora, na imagem aparece o repórter em primeiro plano com a dona Nicéia ao fundo debruçada sobre um frigorífico de supermercado remexendo as peças de perú expostas por lá. O repórter fala baixinho como se confidenciasse algo somente aos milhões de telespectadores sem que a dona Nicéia escutasse: “A dona Nicéia está agora ali”, o repórter aponta,” atrás da gente, escolhendo o perú congelado pra ceia, mas o que será que está acontecendo? O que será que passa nesse exato momento na cabeça de dona Nicéia? Vamos até lá?” ele convida o telespectador a acompanhá-lo, cara de expectativa do repórter, até ele está curioso para saber o que estaria pensando dona Nicéia. Ele chega perto e pergunta à dona Nicéia: “desculpe atrapalhar, mas eu estava observando a senhora... há algo errado?” Ela ainda mexe um pouco no refrigerador antes de se voltar ao repórter e falar como quem fala pro espaço: “... é o preço... tudo tão caro...” “Está muito caro, dona Nicéia?” o repórter tem a cara de surpreso e preocupado. “Sim, muito caro... muito...essa crise...” close na cara desolada de dona Nicéia. E o Thio Therezo ia descrevendo, em detalhes, como deve ser o enquadramento, as falas, em que momento o close funcionaria melhor... e todos anotando cuidadosamente as suas dicas. A matéria termina com o apresentador do jornal dizendo: “a dona Nicéia está certa, o preço do perú nesse Natal está 10,95% mais caro do que no ano passado” e olha para a sua companheira de bancada que retruca: “mas temos a certeza de que os netos da dona Nicéia não ficarão sem o seu delicioso perú de Natal nesse ano...” Os dois otimisticamente sorriem para a câmera e um deles quebra o momento singelo dizendo: “Em instantes, carro desgovernado mata quinze pessoas perto de centro comercial”.
            Fizeram uma pausa para almoço, ainda faltavam três matérias para fechar a reunião. Enquanto almoçavam, o Thio Therezo continuava a fazer sugestões. Uma das matérias tinha que ser sobre o emprego temporário e de como as pessoas se apegavam a eles para tentar se efetivar depois. E ali, no restaurante, o Thio identificou um par de funcionários visivelmente temporários, “vocês já podem inclusive achar um personagem para a estorinha a ser contada”, completou. “Esperança, é a palavra chave?” alguém perguntou, ao que o Thio respondeu: “Não, visibilidade, visibilidade é melhor para descrever isso...”. Visibilidade, todos anotaram em seus caderninhos...
            E chegou a sobremesa, e talvez animado pela grande receptividade às suas propostas, o Thio Therezo arriscou sugerir uma matéria que há muito gostaria de ver, mas nem tudo correu tão bem assim após ele expor sua ideia. Isso, porém, deixaremos para a segunda parte na próxima semana, que senão esse texto vira um textão...




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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Improbidades

 

           Em uma aula de cálculo de integrais para iniciantes é possível que se gaste um bocado de gizes. Isso porque sempre é bom se escrever na lousa todos os detalhes, os passos intermediários, a explicitação das técnicas. Por vezes, até a alta tecnologia, giz colorido, é necessária nesse processo de transferência de conhecimento.
            Ao par das usuais dificuldades didáticas que normalmente se tem nessas horas, e quem ensina sabe-as todas, há uma que foge ao controle do indivíduo que conduz o giz. Falo da qualidade do mesmo, o “mesmo” referindo-se, aqui, ao giz e não ao indivíduo.
            Em uma simples integral, como a do produto da função seno pela exponencial, o giz, comprado em um edital de tomada de preços e totalmente de acordo com a lei 8666 (do pré-histórico ano de 1993), quebra-se rapidamente em inúmeros pedaços inutilizáveis, esfarela-se todo com a umidade desses dias paulistanos e, há de convir, tudo isso só faz acrescentar, pela descontinuidade imposta por esses inconvenientes eventos, mais e mais dificuldades, extras e, em um mundo ideal, certamente desnecessárias.
            Não há dúvidas. A péssima qualidade do giz só faz distrair, por conta de suas inerentes qualidades de quebrabilidades e esfarelhamentos, a atenção de todos os envolvidos nesse processo de transmissão de conhecimentos, aqui referindo-se especificamente ao de cálculo de integrais (mas o mesmo argumento pode ser utilizado em outras análogas situações).
            O giz se quebra em inúmeros pedaços, se esfarela, e o exemplo que duraria, digamos, um quarto de giz de boa qualidade se tanto, perdura pela eternidade de quatro ou cinco gizes de péssima qualidade.
            Mas qual-o-quê, o edital de compra cumpre todas as normas constitucionais desse nosso país em que moramos e o seu preço unitário é o menor dentre todos os possíveis e imagináveis. E tanto faz que um quarto de giz de boa qualidade saia mais barato que os quatro ou cinco, quebradiços e esfarelhentos, necessários para o cálculo da mesma integral.
            Há um estudo, que virou uma tese de doutorado, devidamente financiada pelo CNPq, que compara, sob as mesmas condições de temperatura e pressão e equalidades didáticas, o quanto se gastaria em giz, a longo prazo, em duas situações: com o de melhor qualidade e com o de menor preço. A economia global no primeiro caso, em uma universidade pública, e é disso que estamos falando aqui, seria o suficiente para, depois de alguns anos, a contratação de um docente, ou a compra de um novo sistema de ar condicionado para a seção de licitação e compras, o que fosse mais útil para o administrador de plantão naquele momento.
            Comentei isso, outro dia, em uma roda de conversa, na ingênua expectativa de arregimentar adeptos à minha ingrata cruzada por melhores gizes. Quase que imediatamente alguém comentou com um olhar estranho e ego superior:
            - ... mas você ainda usa giz para dar aula? Mas que coisa mais ultrapassada...
            Olhei ao redor e não senti muita empatia pela minha situação. Mudei então rapidamente de assunto, antes que alguém sugerisse a abertura de uma sindicância administrativa visando investigar os meus métodos didáticos (e ainda bem que eu nem mencionei que adoto livros-textos para a leitura dos alunos e que proíbo a utilização de calculadoras...). 
            Só espero que isso não seja um sinal para eu me aposentar...

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Postal


Se há algo de que sinto falta é de cartas, e cartas seladas! Claro, poderia escrevê-las e enviá-las, apesar de tanta dificuldade atual de se encontrar selos e agências de correio. Quando preciso enviar algo, tenho que desviar de meu caminho, buscar uma agenciazinha meio que escondida, cheia e sem graça...
Mas do que adiantaria escrever e enviar cartas se não for para receber respostas? Num mundo em que o zapzap domina e se você não responde imediatamente vira um pária, escrever e esperar por uma resposta parece algo totalmente fora de propósito.
Pode ser, pode até ser... mas que sinto falta, isso sinto! E só se sente falta de algo quando a tivemos de forma importante em algum momento. E isso eu tive, nos quase cinco anos que vivi fora do Brasil, em duas etapas.
Lembro dos anos em que vivi na Inglaterra, eras pré-históricas. Existia um e-mail institucional em que conversávamos, de forma bem precária, com colegas da região, mas, como no Brasil nem isso tinha chegado (só chegaria quando eu já estava de retorno e mesmo assim restrito às universidades e bem precário), eu me deliciava, e como!, com as cartas que, ida e volta, levavam os seus vinte dias...
Claro que havia telefone, e usávamos sim, mas era caro para as finanças de um bolsista que contava as moedinhas... e quando sobravam, elas eram direcionadas para pequenas viagens, livros ou aquele filmezinho na cinemateca, a depender da quantidade ä disposição.
Lembro que, todo dia, antes do almoço, o porteiro da faculdade em Liverpool, onde eu estava para o doutorado, vinha distribuir as cartas entre as salas de alunos e professores. Era um bonachão e, quando chegava, eu já via de longe nas suas mãos a carta com margem verde e amarela. Mas ele fazia todo um mise-en-scène, como se procurasse uma carta para mim, só para depois, com sua inesquecível cara de espanto, surpreender-se com uma verde-amarela. Daí, ele a aproximava do nariz, cheirava e dizia que era uma carta de uma mulher apaixonada, me entregava e saía todo contente da vida, me deixando lá também contente e ansioso. Os teoremas, os cálculos, as conjecturas e todo o mar de hipóteses que eu tentava decifrar naqueles anos todos de insanidade, tudo isso que esperasse o seu momento para voltar às minhas preocupações! Era agora a hora de ler a carta e já começar a pensar na resposta.
Eu nunca disse ao porteiro que, na grande maioria das vezes, eram cartas de minha mãe...
Sinal dos tempos, ele se aposentou um ano antes do término de meus estudos por lá, fizemos festa e tudo e eu tive ainda mais dificuldades em entender o seu forte sotaque scouse, ele que se divertia bebendo e falando, falando e bebendo. Ele me contava estórias e eu sorria, sem entender, e ele parecia se contentar com isso. Tudo bem, o importante nem era se entender, mesmo... Depois dele, mudaram o esquema de distribuição de cartas e tínhamos que procurá-las em um escaninho da secretaria.
Qual era o nome do porteiro mesmo? Tudo se perde nessa memória ingrata...
Lembro de uma carta que enviei do Canadá, anos depois, para o meu irmão que se casava, distante de onde eu estava. Foi escrita na catedral de Montréal em um daqueles momentos que ficam presentes para sempre dentro da gente sem sabermos bem o porquê. As entrelinhas das cartas devem saber...
O meu primeiro conto chama-se Postal e é o primeiro do meu primeiro livro, o que ganhou como prêmio, na V Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, a sua publicação. Qualquer hora eu anuncio a segunda edição desse livro, mas é significativo pra mim que tenha sido esse o tema de meu primeiro escrito. Fala de rotina e de perdas, esse conto.
Outro dia, já em 2016, fui enviar um par de livros meus para uma amiga. Fui ao correio e disse que eram livros, a moça que me atendeu me deu o preço e abriu o pacote. Junto aos livros eu tinha incluído um cartaozinho com uma frase gentil à amiga. A atendente disse que não poderia enviar como livros, pois havia um cartão. Retirei o cartão e disse para enviar como livros. Ela abriu de novo o envelope, tirou um dos livros e viu que havia uma dedicatória. Com dedicatória, não posso enviar como livro, ela disse, terá que ser correio normal... Voltei com o cartão e enviamos como correio normal, e não especial como livros (enviar como livro, mais do que ser mais barato, mostra a importância que eles deveriam merecer...). Uma dedicatória fazendo toda essa diferença. São os novos tempos... padrões, padrões... mercadorias apenas...
Ao final, saí de lá contente com o fato de que a atendente não tenha tido a curiosidade de ler as besteiras que escrevo. Se fizesse, talvez até me impedisse de enviá-las pelo correio, ou só com uma sobretaxa realmente expressiva. Sinal dos tempos, vigiados em tudo o que fazemos...
De qualquer forma, os livros foram e o valor a mais nem foi tão alto assim, menos que “cinco real”. E, antes que alguém faça a piada, eu a faço: é, Flávio, viu quanto custa uma dedicatória sua? Muito menos que um cafezinho...



quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Fado - Prescrito


  Prescrito...



Falando em fados, em Lisboa e em Portugal, o meu próximo livro (Pigarreios) será lançado lá no dia 11 de janeiro. Lá no Chiado Café Literário, na Avenida da Liberdade, número 180 D, em Lisboa, a partir das 19 horas. Todos convidados a dividirem um vinhozinho do Alentejo comigo!!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

recreações

   

         Nas duas últimas semanas eu publiquei alguns, digamos assim, poemas que obedecem a algumas regras no estilo das criadas pelo grupo OuLiPo (de OUvroir de LIttérature POtentielle), grupo formado na França em 1960 (excelente ano! uma safra divina!). Em algum outro momento eu falo um pouco mais desse grupo, mas o que queria fazer agora é explicar a regra que utilizei na construção das seis recreações publicadas.
            Essa regra, veremos que é bem simples, foi primeiramente utilizada por Carl Andre em seu poema “On the Sadness”. Carl era um artista plástico minimalista e seu poema apareceu originalmente em uma exposição de arte em 1978. Para explicar, vamos tomar como exemplo a recreação Retrês, numerando as suas linhas a partir do número 2:

            2                                  recuperar
            3                                  recusar
            4 = 2x2 = 22                recuperar, sim recuperar
            5                                  retomar o repertório
            6 = 2x3                       recuperar e recusar
            7                                  recusar e retomar
            8 = 2x2x2 = 23            recuperar, sim recusar
            9 = 3x3 = 32                 recusar, sim recuperar
            10 = 2x5                     recuperar e retomar o repertório
            11                                recuperar e recusar o repertório

            Observe que os números 2,3,5,7 e 11 não podem ser escritos como produto de outros números (positivos) menores sem utilizar o 1 (são portanto chamados de números primos). Por outro lado, 4 = 2x2 = 22, 6 = 2x3, 8 = 2x2x2 = 23, 9 = 3x3 = 32 e 10 = 2x5 são escritos como produtos dos primos 2,3 e 5. Em cada um dos casos 4, 8 e 9 o mesmo primo aparece mais do que uma vez e só ele aparece e, por isso, escrevemos tais números como uma exponenciação: 22,  23 e 32, respectivamente. O que está por trás dessa propriedade de decomposição em números primos é o chamado “Teorema Fundamental da Aritmética”.
            Inicialmente, escolhemos palavras ou expressões para cada primo 2, 3, 5, 7 e 11. O próximo passo é escolher algo (palavra(s), pontuação ou até mesmo nada) para a multiplicação e para a exponenciação. Na nossa recreação acima, escolhemos “e” para a multiplicação e “, sim” para a exponenciação.
            Com essas escolhas, agora, as linhas 4, 6, 8, 9 e 10 ficam determinadas. Por exemplo, 4 = 22 e, por isso, nessa linha, usamos a palavra “recuperar” (por conta da linha 2), seguida de “, sim” (por conta da exponenciação) seguida de “recuperar” novamente (também por conta da linha 2). Outro exemplo, na linha 10 aparece “recuperar” seguida de “e” (correspondente à multiplicação) e seguida de “retomar o repertório” (que corresponde à linha 5).
            Escolhi para as minhas recreações poemas de 10 linhas, mas, é claro, pode-se aumentar esse número ao bel prazer. Por exemplo, no poema do Carl Andre há 46 linhas (numeradas do primo 2 ao primo 47). A única diferença para o poema “On the Sadness” é que, além das escolhas feitas, o autor numerou as linhas de baixo para cima enquanto que eu fiz ao contrário. Sarah Glaz usou a mesma regra em seu poema “January 2009” com linhas numeradas de 2 a 13, também de cima para baixo. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Recreações oulipianas - II

Requatro

a revoada
retroagiu
a revoada logo a revoada
respeitável
a revoada retroagiu
à revelia
a revoada logo retroagiu
retroagiu logo a revoada
a revoada respeitável
retroagiu, à revelia


Recinco

releitura
reza
releitura da releitura
recorrente
releitura e reza
respeitável
releitura da reza
reza da releitura
releitura e recorrente
releitura da respeitável reza


Resseis

reagir
recato
reagir, reagir
repetitivo
reagir ao recato
recato reversível
reagir, recato
recato, reagir
reagir ao repetitivo
ao repetitivo e reversível recato


Por trás dessas recreações há uma regra simples no estilo das criadas pelo grupo francês OULIPO. As frases que aparecem aqui foram tiradas de meu conto "Referências" publicado no livro "Ledos Enganos, Meras Referências". As três primeiras recreações foram publicadas em 27/10/2016 e paro por aqui...

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Recreações oulipianas

Reum

realçar
a retidão
realçar e realçar
o relógio
realçar a retidão
a retidão do relógio
realçar e a retidão
a retidão e realçar
realçar o relógio
realçar a retidão do relógio


Redois

a retina
renitente
a retina da retina
da renitente Rebeca
a retina renitente
da Rebeca
a retina de renitente
renitente da retina
a retina da renitente Rebeca
a retina renitente da Rebeca


Retrês

recuperar
recusar
recuperar, sim recuperar
retomar o repertório
recuperar e recusar
recusar e retomar
recuperar, sim recusar
recusar, sim recuperar
recuperar e retomar o repertório
recuperar e recusar o repertório



Estou publicando essas recreações por conta da conversa "Literatura e Matemática" que faremos Jacques Fux, Marco Lucchesi, Nilson Machado e eu no IEA-USP a partir das 14 horas de hoje, dia 27 de outubro (com transmissão online). Por trás dessas recreações, uma regra simples no estilo das criadas pelo grupo francês OULIPO. As frases que aparecem aqui foram tiradas de meu conto "Referências" publicado no livro "Ledos Enganos, Meras Referências".

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Zapzap analógico...



            Duas semanas atrás eu contei as desventuras sobre o roubo de meu voto, mas acabei não contando um dos pensamentos que transitou em minha mente enquanto esperava, em vão, uma solução para o seu estranho sumiço.
            Eu estudei por sete anos no Colégio Costa Manso, mas não é lá que eu voto. Eu voto no colégio Aristides de Castro, distante uns trezentos metros do Costa, mas visualmente muito parecido a ele. E lá, no corredor do Aristides, enquanto esperava dessa vez por algo que não veio, vieram sim lembranças e lembranças do Costa. Pensando bem, sei lá se os dois colégios só são realmente parecidos apenas nessa minha longínqua memória. Dois minutos de concentração e vou conseguir diferenciá-los de forma inequívoca.
            Sete anos passei no Costa, cursei os últimos quatro anos do tal primeiro grau e os três do segundo. Ele agora é um colégio só de ensino médio. Desde então, voltei lá poucas vezes, a última para dar uma palestra aos alunos, nem faz tanto tempo assim... O mesmo Costa que tive que puxar pela memória enquanto escrevia a aventura “A turma do Costa e o desafio de Xadrez”. Se foi por conta das tais memórias de meu tempo de Costa ou não, o fato é que esse livro foi o que me saiu com mais tranquilidade, sentimento que não encontro com frequência em minhas cotidianas e inglórias batalhas com palavras e frases e ideias...
            Nesses dias de votação, sempre vou em horários de pouco movimento e, zás, voto rapidinho, sem nem ter tempo de mais nada. Mas, o voto roubado dessa última vez me forçou a ficar ali, e ali fiquei vendo as carteiras empilhadas e as carteiras empilhadas me trouxeram uma lembrança. Quem há de saber realmente como é que as lembranças aparecem, como te atropelam? Elas repentinamente te invadem a mente, muitos anos sem pensar naquilo, e brotam assim, sem sequer avisos prévios.
            As carteiras da escola, empilhadas hoje...
            Houve uma época, acreditem crianças, em que não havia zapzap, nem celular e a gente tinha que se virar para criar nossas redes sociais, conhecer pessoas virtualmente... E, acreditem crianças, havia sim vida sem o zapzap e sem o celular.
            E as carteiras da escola me trouxeram a lembrança de quando escondíamos nelas bilhetinhos, sim, pedaços de papéis endereçados a pessoas que muitas vezes nunca veríamos. Era assim, tudo começava como uma brincadeira, éramos jovens e inconsequentes, sim, crianças, juventude e inconsequências existem há muito tempo...
            Um primeiro bilhetinho inocente era deixado na parte debaixo da carteira, preso ao suporte de ferro, escondido do mundo, ou assim achávamos. E acontecia, por vezes, desse bilhetinho ter a sorte de ser encontrado por alguém que sentasse ali na mesma carteira mas em outro turno do dia. Às vezes, dava liga e a conversa seguia dia após dia, um bilhete seguindo o outro, sempre escondidos na parte debaixo da carteira, gerando curiosidades e emoções. Ás vezes, não dava e a brincadeira recomeçava tempos depois, talvez noutra carteira...
            Zapzap analógico, ficávamos conhecendo pessoas e, por vezes, isso até evoluia para um encontro cara a cara.
            Lembro de uma garota que se sentava, à tarde, na mesma carteira que eu gostava de usar pela manhã. Troca de bilhetes que me levou a visitar o Costa no período da tarde só para vê-la concentrada (ou não) na aula. Lembro dela e do filme a que fomos juntos (quer dizer, quem é que se lembra do filme?). Do namorico que, sei lá, não avançou. O encanto da troca de bilhetes se perdeu quando pudemos nos ver cara a cara, nos tocar, no ligeiro beijo roubado. Paciência...
            Mas a espera, ansiosa e por isso gostosa, pela busca, tão logo chegávamos à sala de aula, do pedaço de papel escondido, às vezes até uma folha inteira de carta, isso sim valia a pena. Era o céu quando conversávamos com alguém que correspondia e respondia seu zapzap. E, se seguisse em frente, melhor ainda.
            As carteiras empilhadas, lembranças, ansiedades...
            O zapzap passou, com o tempo, de analógico a digital, mas minha ansiedade pelas respostas por mensagens enviadas ainda se mantém muito viva. E ninguém me convence que isso não é fruto daqueles anos de Costa, da espera pelos bilhetinhos, daquele momento em que nossa mão se escondia por baixo da carteira à procura de alguma emoção, de um pedaço de papel que fosse. Ou até da ansiedade que me causou a sardenta Thaís, quem poderia se esquecer do primeiro amor platônico? Como esquecer a garota que sequer sabia que você existia, convidei-a um dia para o cinema e ela me deixou falando sozinho... Ansiedades e inseguranças que ainda persistem...
            Penso nisso olhando as carteiras empilhadas no dia da votação. Mas logo a diretora do colégio chega para falar comigo sobre o voto roubado e, quando pude relaxar de novo, as lembranças do Costa já tinham se distanciado de novo...


AGENDA. No dia 27 de outubro, a partir das 14 horas, teremos uma conversa no Instituto de Estudos Avançados da USP sobre "Literatura e Matemática" com a presença de Jacques Fux, Marco Lucchesi e Nilson Machado e sob a minha mediação. Há um número limitado de vagas para assistir in loco, mas o evento será também transmitido ao vivo. Mais informações aqui.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Mãos dadas no parque... - Prescrito


 Prescrito...



AGENDA. No dia 27 de outubro, a partir das 14 horas, teremos uma conversa no Instituto de Estudos Avançados da USP sobre "Literatura e Matemática" com a presença de Jacques Fux, Marco Lucchesi e Nilson Machado e sob a minha mediação. Há um número limitado de vagas para assistir in loco, mas o evento será também transmitido ao vivo. Mais informações aqui.