Em uma aula de cálculo de integrais para iniciantes é possível que se gaste um bocado de gizes. Isso porque sempre é bom se escrever na lousa todos os detalhes, os passos intermediários, a explicitação das técnicas. Por vezes, até a alta tecnologia, giz colorido, é necessária nesse processo de transferência de conhecimento.
Ao par
das usuais dificuldades didáticas que normalmente se tem nessas horas, e quem
ensina sabe-as todas, há uma que foge ao controle do indivíduo que conduz o
giz. Falo da qualidade do mesmo, o “mesmo” referindo-se, aqui, ao giz e não ao
indivíduo.
Em uma
simples integral, como a do produto da função seno pela exponencial, o giz,
comprado em um edital de tomada de preços e totalmente de acordo com a lei 8666
(do pré-histórico ano de 1993), quebra-se rapidamente em inúmeros pedaços inutilizáveis, esfarela-se
todo com a umidade desses dias paulistanos e, há de convir, tudo isso só faz
acrescentar, pela descontinuidade imposta por esses inconvenientes eventos,
mais e mais dificuldades, extras e, em um mundo ideal, certamente desnecessárias.
Não há
dúvidas. A péssima qualidade do giz só faz distrair, por conta de suas
inerentes qualidades de quebrabilidades e esfarelhamentos, a atenção de todos
os envolvidos nesse processo de transmissão de conhecimentos, aqui referindo-se
especificamente ao de cálculo de integrais (mas o mesmo argumento pode ser utilizado em outras análogas situações).
O giz se
quebra em inúmeros pedaços, se esfarela, e o exemplo que duraria, digamos, um
quarto de giz de boa qualidade se tanto, perdura pela eternidade de quatro ou
cinco gizes de péssima qualidade.
Mas
qual-o-quê, o edital de compra cumpre todas as normas constitucionais desse
nosso país em que moramos e o seu preço unitário é o menor dentre todos os
possíveis e imagináveis. E tanto faz que um quarto de giz de boa qualidade saia
mais barato que os quatro ou cinco, quebradiços e esfarelhentos, necessários
para o cálculo da mesma integral.
Há um
estudo, que virou uma tese de doutorado, devidamente financiada pelo CNPq, que
compara, sob as mesmas condições de temperatura e pressão e equalidades
didáticas, o quanto se gastaria em giz, a longo prazo, em duas situações: com o
de melhor qualidade e com o de menor preço. A economia global no primeiro caso,
em uma universidade pública, e é disso que estamos falando aqui, seria o
suficiente para, depois de alguns anos, a contratação de um docente, ou a
compra de um novo sistema de ar condicionado para a seção de licitação e
compras, o que fosse mais útil para o administrador de plantão naquele momento.
Comentei
isso, outro dia, em uma roda de conversa, na ingênua expectativa de
arregimentar adeptos à minha ingrata cruzada por melhores gizes. Quase que
imediatamente alguém comentou com um olhar estranho e ego superior:
Olhei ao
redor e não senti muita empatia pela minha situação. Mudei então rapidamente de
assunto, antes que alguém sugerisse a abertura de uma sindicância
administrativa visando investigar os meus métodos didáticos (e ainda bem que eu
nem mencionei que adoto livros-textos para a leitura dos alunos e que proíbo a
utilização de calculadoras...).
Só
espero que isso não seja um sinal para eu me aposentar...
É!... acho que estamos ficando ultrapassados.
ResponderExcluirE como estamos...
Excluir