O Thio Therezo tem dessas coisas, quando encasqueta com algo tenta ir até o fim sem descanso. Foi o que aconteceu outro dia quando ele viu um Pokémon saindo de trás de sua cadeira de leitura predileta e, ainda mais, mostrando-lhe desaforadamente a língua. Era um Petxóli, o mais arisco e raro dos Pokémon dessas nossas bandas.
Sem escolha, o Thio foi atrás do abusado, mas o Petxóli era muito escorregadio, escapava prá cá e prá lá. E a perseguição durou dias, esquinas, ladeiras, estradas, horas e horas, parques, avenidas, bares (fizeram uma trégua um dia e até beberam uma cerva juntos e trocaram experiências de seus respectivos mundos), subiram colinas, atravessaram lagos, percorreram vilarejos e vilas e cidadezinhas e cidadezonas. Muita perseguição e quando se deram conta lá estava o Thio perseguindo o tal Pokémon pelas ladeiras íngremes de Diamantina. Estava muito difícil capturá-lo.
Mas quando o arredio e esperto Petxóli se escafedeu prás bandas da Serra dos Cristais, o Thio achou que seria demais e desistiu, resignado, da caça.
Não que o Thio já não tivesse tido uma grande cota de decepções ao longo de sua vida, mas essa foi dura. Deixar escapar um Pokémon que te mostra a língua (verde gritante listrada de amarelo limão, e ainda mais gosmenta...) está seguramente no rol das decepções de grande porte.
E decepções, sabemos, nos levam a rever prioridades na vida.
Em todo caso, essa aventura o levou de volta à Diamantina e, melhor ainda, em um fim de semana de Vesperata e isso é bão demais... Reviu amigos, em especial o Leonardo da Relíquias, esbaldou-se de cantar “peixe vivo” pelas ladeiras de pedra da cidade, esbanjou sorrisos, bebeu a sua cota de cachacim mineira, torresmim, docim de leite e tudo o mais a que se tem direito em uma cidade como aquela.
Foi tão bão que ele prometeu aos amigos que voltaria a Diamantina rapidim rapidim.
No alvoroço do primeiro domingo depois que voltou dessa aventura, Thio comentou como quem não quer nada.
- Sabe, pessoal... caçar Pokémon, visitar a Disney e fazer uma tradução das Lusíadas para o esperanto arcaico não estão dentre as minhas prioridades atuais...
Senti uma tristeza em suas palavras, como se ele estivesse abrindo mão de algo importante na vida, mas, sei lá, pode ter sido só impressão.
E quanto ao Petxóli, soubemos mais tarde que ele nunca foi perturbado na Serra dos Cristais. Casou-se, teve filhos e passa suas tardes de domingo picando fumo na soleira da porta de sua casinha observando os elefantes amarelos de bolinhas escarlates que passeiam, obviamente voando, de um lado a outro na linha do horizonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário