Na vizinha República de Hygina haverá eleições no próximo final de semana. Tal e qual aqui, eles adoram nos copiar. Copiam no confuso (para não dizer outra coisa) ordenamento jurídico, copiam nas mazelas eleitorais, copiam até nas urnas eletrônicas.
Sim, há tempos eles também se utilizam das tais invioláveis
urnas eletrônicas e se vangloriam que, com elas, não há fraudes. Aliás, como se
verificar se há algo errado se não é possível se recontar os votos caso isso fosse
necessário? E nunca é, e não se fala mais nisso.
Mas, esse ano, o Maioral Tribunal Eleitoral (MTE) da República
de Hygina irá testar, em algumas poucas e bem escolhidas seções, um sistema de
votação via celular. Modernidade é tudo, mano, deslumbramento também. Claro
que, como nada valerá de fato, o teste será extremamente bem sucedido e todos
os maiorais irão se vangloriar disso.
Mas o verdadeiro
pulo do gato do MTE está reservado para as próximas eleições. Se eliminando as
urnas eletrônicas e fazendo com que as pessoas votem a partir do próprio
celular o custo se reduz bastante, imagina esse próximo passo que não dependerá
de centenas de milhares de equipamentos ou de algum sofisticado sistema de segurança.
Muito menos, o melhor para eles é isso, dependerá da participação direta dos
eleitores, grande sonho de consumo dos hygienistas da República de Hygina. Nada
de abraços no povo, ou de pasteis de feira ou cafés requentados (imagina então
buchada de bode para o candidato que diz ter um pezinho na cozinha, puro sofrimento...)
Assim
funcionará. Algoritmos, a partir das informações coletadas diretamente em redes
sociais ao longo de meses, irão traçar os perfis dos eleitores e, com isso bem
estabelecido, escolherão, em seus nomes, os candidatos mais apropriados a cada
um. Um veloz computador poderá resolver esse problema em poucos minutos poupando
a todos, eleitores e eleitos, o imenso trabalho que as eleições atuais embutem.
Nada de propaganda televisiva, de impressos, de marqueteiros, de grupos de trabalho
para a eterna repetição de propostas, de tentativas de convencimento. Pouparão,
também, os olhares de besta de candidatos que, frente à televisão, já se sentiam
eleitos mas perceberam que o resultado fora outro. Como efeito colateral, pode-se
até dizer que somos a maior democracia do mundo e onde a abstenção na votação é
nula.
Há
detalhes, claro, a serem acertados, um deles sendo que Inteligências Artificiais
não conseguem perceber ironias, o que pode distorcer um pouco a construção dos
perfis. Mas nada que (mais) uma reforma na legislação não resolva. Uma PEC, por
exemplo, proibindo as ironias nas redes sociais. Teria o irrestrito apoio do
Zuck.
Que
venha o futuro! Mas que venha gentil com os não deslumbrados...
PS - Seria engraçado, trágico
não fosse. Dois anos atrás, um grande jornal de São Paulo fez algo do tipo. A
partir das respostas a um questionário online, o jornal traçava o perfil do
eleitor e indicava em qual candidato ele deveria votar para deputado. Qual tenha
sido o resultado, o fato é que não repetiram a experiência dessa vez. Talvez
estejam aperfeiçoando as perguntas...
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