Depois de minha narração do dois de julho de duas semanas atrás, surgiu a dúvida se a mãe do João Batista era Elizabeth ou Isabel. No fundo, uma questão de tradução. Como bem apropriadamente ressaltou o meu irmão, a fonte primária certamente foi uma bíblia em grego, daí o anglicanismo... se tivesse sido uma bíblia em aramaico, tudo teria sido diferente, Isabel teria então prevalecido. Nada mais natural!
Há de haver quem há de achar que isso é irrelevante. Não o é e, por isso, fui consultar o Thio Therezo dada a sua expertise em questões de religiões.
Após infrutíferos telefonemas, fui finalmente encontrá-lo em Paraty, em meio àquela deliciosa confusão literária que é a FLIP, ouvindo poesias com sotaque português, rixas musicais, narizes empinados, respostas desconectadas das perguntas e filas e mais filas, a cocada comida na rua, a criançada se divertindo com livros, os adultos mais ainda, a chuva que atrapalha a caminhada, as pedras no meio do caminho, no meio do caminho as pedras, e mais pedras, a pizzaria com filas, em cada esquina uma atividade, duas pessoas conversando e teremos um evento literário. A imensa fila de preferenciais na grande tenda, e, quando todo mundo é preferencial, ninguém o será... a disputa por um café, que escritor sem café, não existe. Poetas de rua, cantores de rua, manifestantes, índios e seus apitos, e seus apitos e seus apitos, e haja apito. E música na praça da matriz, e teatro pelos cantos. E livros e mais livros e mesas de discussão e mais mesas e bombinhas de festa junina divertindo as crianças. Deliciosa confusão que só é possível nesses eventos.
No meio disso tudo, o Thio ainda achava o seu tempo na busca de um método efetivo para se estimar o número de pedras nas ruas do centro histórico da cidade, como parece ser um dos passatempos prediletos de algumas pessoas nesse nosso país.
Soube então que o Thio Therezo tinha se dado esse presente de aniversário, “faz tempo que queria vir à FLIP”, ele me disse isso como se precisasse justificar, justo a mim, qualquer coisa que fizesse na vida!
Após o usuais preâmbulos, expus-lhe o problema que tinha. Enquanto falava, eu o ouvia mexer nas gavetas da pousada em que estava hospedado. Perguntei-lhe o que se passava e ele me disse que procurava uma Bíblia, que todo quarto de hotel que visitara nesse país tinha uma Bíblia em alguma gaveta e, que coisa!, ele exclamava, cadê essa Bíblia... Percebi que parou a procura em um dado momento, mas, para nosso desencanto, não foi uma Bíblia que ele achou. Um pacotinho de camisinha “Eros” foi tudo o que habitava a gaveta.
Thio Therezo está longe de ser conservador, muito liberal ele é aliás, mas, naquele momento, não houve quem conseguisse consolá-lo sobre o fato daquele quarto de pousada, e não era uma pousada barata não, central, bem localizada... que lá não houvesse uma Bíblia sequer, em grego ou aramaico que fosse... Falou e falou tanto que desisti, naquele momento, de insistir em meu problema.
Há tempo para tudo e, quando puder, voltarei ao assunto com ele, sei que me dará uma de suas completas e bem fundamentadas respostas.
Por ora, fiquemos assim, então: Elizabeth ou Isabel, a escolha se dá a partir da fonte primária que cada um se fiar melhor...
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