quinta-feira, 26 de abril de 2018

O tal futuro.

            Está em estudos a criação de um chip que, implantado no cérebro das pessoas, as ajudariam a corrigir suas ideias, assim como o corretor dos smartphones faz com as mensagens de zapzap.
            É claro que nesse último caso nem sempre a coisa funciona bem. Você escreve, por exemplo, “um feliz natal” e envia e, vai entender a mente perturbada do programador desse corretor, quando você olha de novo está escrito “infeliz natal”. Serão necessários meses de investimento emocional para recuperar a amizade que acabou de perder.
            Mas o chip, dizem os entusiastas, funcionaria assim. A pessoa pensa em dizer alguma coisa, mas, antes que as cordas vocais possam entrar em ação, o chip teria ainda a possibilidade de corrigir a sua fala. Ninguém mais falaria algo sem pensar. E mais, por meio de inúmeros algoritmos especificamente criados para tal, sua fala estaria adaptada plenamente ao seu perfil (e quem melhor do que esses algoritmos para dizer com certeza os seus gostos e convicções, não é?).
            Com o tempo, se o algoritmo concluir que você é do tipo tranquilo, a sua fala será adaptada para evitar qualquer polêmica que fosse com o seu interlocutor. A indústria farmacêutica venderia, com certeza, menos produtos calmantes e anti-stress, mas é o preço da modernidade, não? Seguramente, eles se adaptariam facilmente, como a história da humanidade tanto nos diz.
            E se você for do tipo agressivo, com a ajuda desses algoritmos suas falas passarão a imagem da mais zen das pessoas.
            Vejam só as vantagens propagadas pelos inventores do chip. Você não precisaria mais gastar seu tempo aprendendo coisas, lendo inutilidades, construindo opiniões, pois o chip estaria constantemente em contato com nuvens, distantes ou não, suprindo sua mente com as informações necessárias para os seus discursos e falas, todos gramaticalmente corretos e dentro do perfil que o sistema associou a você.
            Sem surpresas mais nessa vida tão inconstante.
            As possibilidades são inúmeras. Imagine que você esteja em dúvida sobre se deve, ou não, trocar, pela décima vez no ano, o seu celular por um mais moderno, ou se deve apoiar a candidatura daquele gestor arrogante mas sorridente. O chip certamente irá solucionar da melhor maneira possível esses impasses.
            E o tempo economizado com essas inutilidades de reflexão e extensas leituras, próprias de pré-históricos seres, poderia ser melhor utilizado jogando algum game pela internet ou consumindo reality shows. É claro que, com isso, certas mídias perderiam a razão de ser, mas, vejam bem, quem é que se importaria com isso nesse novo mundo, isto é, nessa nova época?

            - Onde é mesmo que eu desligo essa porra de corretor? – Vez ou outra a gente escuta o Thio Therezo esbravejar frente ao seu smartphone. Nessas horas, melhor nem interferir.



Lançamento. No próximo dia 12 de maio, às 14 horas, lançarei o meu livro infantil "Guarda-Trecos" (ilustrações da Lucilia Alencastro) na Livraria Panapaná, Rua Leandro Dupré, 396, Vila Clementino, São Paulo. Haverá contação de estórias (às 15 horas com a querida Nani Braun), oficina, pipoca e groselha. Apareçam!





2 comentários:

  1. Apesar dos riscos, ando me considerando um risco mais sério ultimamente.... Uma programaçãozinha para um perfil assinalando ausência de tolerância (e de pavio) em estado avançado, não seria nada mal, juro!

    ResponderExcluir