A BIBO registrou, logo às 7h43 da
manhã daquele dia o acesso ao seu 4G, desligado desde as 23h02 do dia anterior.
Mas mesmo antes disso, o seu iPhone anotou que, pelo terceiro dia consecutivo,
ele acordou às 7h30 a partir do sonoro e irritante toque de despertar,
escolhido por algum arrogante programador do Vale do Sílicio. Como sempre, os
dedos ágeis de sua pesada mão tocou a tela do aparelho no exato ponto de
propiciá-lo uma dormida extra, uma soneca de preci(o)sos nove minutos, conforme
estabelece um padrão internacional acordado (sem trocadilhos...) após extenso
estudo feito por uma prestigiosa universidade americana.
Três dias consecutivos acordando no
mesmo horário criam um padrão, estabelecem um perfil, alertam os algoritmos de
que algo precisa ser registrado, ao menos nas cabeças preguiçosas de certos
programadores. Cuidado, no entanto, mais uma repetição de horário de despertar e
ele estará condenado a ser escravo para sempre do alarme digital acordando-o
precisamente às 7h30, nem minuto antes nem minuto depois. E não haverá maneira
de convencer o aparelho, já devidamente orientado, do contrário, nem mesmo nos
finais de semana, nem mesmos nos dias de preguiça.
Olhou a previsão do tempo em seu
aplicativo que indicava já haver um maravilhoso sol naquele momento, coisa que
seus olhos não confirmaram ao abrir ligeiramente a janela e constatar o
chuvisco presente. Importa não, o aplicativo é que deve estar certo. Vestiu-se
de acordo.
Barba, banho, roupa limpa e café. A
essa altura, o celular já o tinha lembrado de inserir a sua senha do iCloud sem
se atentar ou aprender (isso é que é inteligência artificial???) com as
centenas de vezes em que ignorou tal lembrança. Só aprendem quando convém, até
diríamos, mas não sejamos tão injustos com essa tecnologia toda. Também a essa
altura do dia, o celular já o teria alertado a atualizar, pela n-ésima vez só
essa semana, o sistema operacional, lembrá-lo dos aniversários do dia (isso é
útil) e das cotações da bolsa de valores de sete cidades, incluindo a de
Shangai . Parece que seu celular foi acessado naquele dia em que passava à
frente da Bolsa aqui em São Paulo e, por isso, a inteligência artificial
interpretou que ele, que sequer tinha algum trocado sobrando depois das
necessidades básicas, estaria imensamente interessado em saber, todas as santas
manhãs, as cotações de 37 ações, justamente as mais negociadas ao longo do dia
anterior, vigentes quer seja em sua cidade quer seja em uma das outras inúmeras
cidades do globo. E não havia botão para desligar essa função. Acostumou-se com
isso então, com mais isso e até se divertia, por vezes, em analisar a subida e
descida as cotações de ações que sequer
passaria perto.
Sorria, o seu perfil está em constante
construção. Pedimos desculpas por qualquer inconveniente. Sua conexão é muito
importante para nós.
Às 8h32, foi brindado pelo seu agitado
celular com um pequeno vídeo com fotos antigas, de exato um ano atrás. Seu
relógio hightech registrou então para posterior análise um ligeiro aumento na
pressão arterial. Também pudera, aquelas fotos lembranças traziam e que
lembranças! Mas essa conexão, aumento arterial e lembranças, passará
desapercebida ao sistema operacional, sim estamos ainda em construção e tal o
quê, o que o médico irá receber ao final do dia será justamente um urgente
relatório atestando, sem explicações ou conexões, essa variação de pressão e
provavelmente irá relacioná-la com o tipo de café que ele tomava em seu
desjejum.
Terá que mudar novamente o café, a
conselho médico.
[[ continua na próxima semana...]]
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