quinta-feira, 14 de julho de 2016

Thio Therezo e o jogo de Bocha - parte 1


            Além de exímio jogador de Bocha, Thio Therezo é um profundo estudioso desse fascinante jogo. Desde suas origens históricas, e o Thio assessorou muitos arqueólogos nessa busca, até as influências sócio-culturais do jogo na sociedade moderna (o Thio descreve, frequente e divertidamente, a versão do Bocha Erótico, muito em voga nos delirantes anos 60´s), nada escapa ao seu arguto olhar quando se trata desse jogo. Sim, o Thio é o expert mundial nesse assunto.
Nem por isso, e ai devemos sempre lembrar da satânica inveja que frequentemente corroe os seus inimigos e o alcance de suas ações, o Thio fez parte da equipe brasileira que ganhou o campeonato mundial de Bocha em 2006, momento de auge do esporte nacional, só comparável, ao ver do Thio, ao penta do futebol ou às medalhas de nossos atletas no salto triplo. Sabemos todos o quanto não participar dessa conquista rendeu de sofrimento ao Thio, mas, justiça feita, ele foi o torcedor símbolo da equipe, mesmo à distância. E, no fundo, os campeões mundiais, seus chapas do dia a dia, reconhecem que, sem o decisivo apoio do Thio, mesmo nos bastidores, não teriam chegado a essa glória. Humilde que sempre foi, o Thio os proibiu de sequer mencionar isso em público para que essa importante vitória esportiva não fosse maculada pelas vozes de seus eternos detratores. Ele bem sabe o que faz.
            Lembro de uma vez em que um colega meu, éramos crianças então, perguntou ao Thio como era o jogo de Bocha.
            - Você conhece o jogo das vassourinhas? - o Thio perguntou ao meu colega.
            - Conheço sim...
            - Pois bem, é parecido, mas sem as vassourinhas... e sem o gelo. É claro, é uma versão mais antiga e, digamos assim, tropical...- emendou o Thio sem se preocupar em saber se isso traria mais confusão à mente desse meu desinformado amigo. Já a mente do Thio se ocupava de outras questões, enquanto nós partíamos rumo à escola, nem sei por que me lembrei disso agora...
            Em todo o caso, ele era indubitavelmente o expert do jogo e, por que não?, verdadeiro entusiasta de seus efeitos emocionais e terapêuticas sobre as sociedades humanas. Em uma de suas inúmeras insanas batalhas, tentou, junto ao COI, incluir o jogo como um dos eventos da Olimpíada e olha que ele tinha evidências mais do que incontestáveis de que esse jogo tinha sido a principal, não uma, mas a principal atração dos primeiros jogos na Grécia e isso não era pouca porcaria não...
            Mas suas falas sequer foram ouvidas no COI e, pela verdade, o Thio sabia perfeitamente que não era bem visto pelos suíços, conhecia de cor a rede de intrigas que havia tempos cercava sua relação com eles. Algo a ver com o relatório daquela comissão sobre a auto denominada transferência de obras de arte para o auto denominado país neutro à época da segunda guerra mundial e que o Thio tão competentemente presidiu. Ao que parece, as conclusões dessa dita comissão, séria que foi, não agradou totalmente aquele país que esperava atitudes mais condescendentes, ou condizentes eles diriam, ao seu eterno papel histórico. E o auto denominado pacífico país declarou guerra ao Thio por conta das conclusões dessa comissão, persona non grata ele virou sem clemência ou possibilidades de retratações...
            - Eita povinho prá guardar rancores... – foi o único que ouvimos dele, nesses anos todos, sobre tal assunto.
            Tentou também incluir o jogo de Bocha como patrimônio cultural da humanidade junto à ONU, mas, a despeito do grande respeito internacional que ele ostenta, certos grupos de interesses dúbios conseguiram brecar também essa iniciativa. Nem o Vaticano, que o apoiou nessa empreitada, conseguiu reverter isso e o Thio entendeu bem as dificuldades dessa batalha naquele específico momento político, o próprio Vaticano estava tendo suas próprias dificuldades internacionais à época.
            Não por menos, muito o surpreendeu o que aconteceu na pequena republiqueta vizinha ao reino do óleo fervente já aqui mencionado em outras crônicas. Tal republiqueta o surpreendeu não pelo fato de que sua bandeira homenageava valentes e gloriosos pitbulls locais, nem o fato da obrigatoriedade de consumo de uma especiaria bem típica da região feita de um espesso purê de batata roxa com carne de javali cozida lentamente em fornos enterrados nas vastas florestas e untada com mel das nativas e agressivas abelhas silvestres, difíceis de serem domesticadas. Toda sexta-feira, era obrigatório, consumia-se fartamente tal alimento e brindavam todos com o aguardente local a alegria de mais uma semana vivida.
            O que realmente chamou a atenção do Thio foi o fato de haver um único time de Bocha em todo o país, apesar de esse ser reconhecidamente o seu esporte nacional. E o Thio, curioso que é, resolveu passar um tempo por lá para entender esse fenômeno.

[[ a segunda parte do conto será publicada na próxima semana]]

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