Além de exímio jogador de Bocha, Thio Therezo é um profundo estudioso desse fascinante jogo. Desde suas origens históricas, e o Thio assessorou muitos
arqueólogos nessa busca, até as influências sócio-culturais do jogo na sociedade moderna (o Thio
descreve, frequente e divertidamente, a versão do Bocha Erótico, muito em voga
nos delirantes anos 60´s), nada escapa ao seu arguto olhar
quando se trata desse jogo. Sim, o Thio é o expert mundial
nesse assunto.
Nem por isso, e ai devemos sempre
lembrar da satânica inveja que frequentemente corroe os seus inimigos e o alcance de suas ações, o Thio fez parte da
equipe brasileira que ganhou o campeonato mundial de Bocha em 2006, momento de auge do esporte nacional, só comparável, ao ver do Thio,
ao penta do futebol ou às medalhas de nossos atletas no salto triplo.
Sabemos todos o quanto não participar dessa conquista rendeu de sofrimento ao
Thio, mas, justiça feita, ele foi o torcedor símbolo da equipe, mesmo à
distância. E, no fundo, os campeões mundiais, seus
chapas do dia a dia, reconhecem que, sem o decisivo apoio do Thio, mesmo nos
bastidores, não teriam chegado a essa glória. Humilde que sempre foi, o Thio os
proibiu de sequer mencionar isso em público para que essa importante vitória esportiva
não fosse maculada pelas vozes de seus eternos detratores. Ele bem sabe o que
faz.
Lembro de uma vez em que um colega meu,
éramos crianças então, perguntou
ao Thio como era o jogo de Bocha.
- Você conhece o jogo das
vassourinhas? - o Thio perguntou ao meu colega.
- Conheço sim...
- Pois bem, é parecido, mas sem as vassourinhas...
e sem o gelo. É claro, é uma versão mais antiga e, digamos assim, tropical...- emendou o Thio sem se preocupar em saber se
isso traria mais confusão à mente desse meu desinformado
amigo. Já a mente do Thio se ocupava de outras questões, enquanto nós
partíamos rumo à escola, nem sei por que me lembrei disso agora...
Em todo o caso, ele era
indubitavelmente o expert do jogo e, por que não?, verdadeiro entusiasta de
seus efeitos emocionais e terapêuticas sobre as sociedades humanas. Em uma de
suas inúmeras insanas batalhas, tentou, junto ao COI,
incluir o jogo como um dos eventos da Olimpíada e olha que ele tinha evidências
mais do que incontestáveis de que esse jogo tinha sido a principal, não uma,
mas a principal atração dos primeiros jogos na Grécia e isso não era pouca
porcaria não...
Mas suas falas sequer foram ouvidas
no COI e, pela verdade, o Thio sabia perfeitamente que não era bem visto pelos
suíços, conhecia de cor a rede de intrigas que havia tempos cercava
sua relação com eles. Algo a ver com o relatório daquela comissão sobre a auto
denominada transferência de obras de arte para o auto denominado país neutro à
época da segunda guerra mundial e que o Thio tão
competentemente presidiu. Ao que
parece, as conclusões dessa dita comissão, séria que foi, não agradou
totalmente aquele país que esperava atitudes mais condescendentes, ou
condizentes eles diriam, ao seu eterno papel histórico. E
o auto denominado pacífico país declarou guerra ao Thio por conta das
conclusões dessa comissão, persona non grata ele virou
sem clemência ou possibilidades de retratações...
- Eita povinho prá guardar rancores... – foi o único
que ouvimos dele,
nesses anos todos,
sobre tal assunto.
Tentou também incluir o jogo de Bocha como
patrimônio cultural da humanidade junto à ONU,
mas, a despeito do grande respeito internacional que ele ostenta, certos grupos
de interesses dúbios conseguiram brecar
também essa iniciativa. Nem o Vaticano, que o apoiou
nessa empreitada, conseguiu reverter isso e o Thio entendeu bem as dificuldades
dessa batalha naquele específico momento político, o próprio Vaticano estava
tendo suas próprias dificuldades internacionais à época.
Não por menos, muito o surpreendeu o
que aconteceu na pequena republiqueta vizinha ao reino do óleo fervente já aqui mencionado em outras crônicas. Tal
republiqueta o surpreendeu não pelo fato de que sua bandeira homenageava
valentes e gloriosos pitbulls locais, nem o fato da obrigatoriedade de consumo
de uma especiaria bem típica da região
feita de um espesso purê de batata
roxa com carne de javali cozida lentamente em
fornos enterrados nas vastas florestas e untada com
mel das nativas e agressivas abelhas silvestres, difíceis de serem domesticadas. Toda sexta-feira, era
obrigatório, consumia-se
fartamente tal alimento e brindavam todos com o aguardente local a alegria de
mais uma semana vivida.
O que realmente chamou a atenção do
Thio foi o fato de haver um único time de Bocha
em todo o país, apesar de esse ser reconhecidamente o seu esporte nacional. E o
Thio, curioso que é, resolveu passar um tempo por lá para entender esse
fenômeno.
[[ a segunda parte do conto será publicada na próxima semana]]
[[ a segunda parte do conto será publicada na próxima semana]]
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