Não é novidade a ninguém a impressionante lista de livros que o Thio Therezo publicou ao longo de sua vida e nem a extensão dos assuntos abordados e profundamente estudados por ele.
Há
um livro em particular, chamado “A
melancolia como característica”, que se tornou uma referência essencial na
área de análise dos sentimentos. Esse é definitivamente o livro, além de ser o livro pelo qual o Thio gostaria de ser lembrado.
Em seu ensaio inicial, que serve como introdução a essa excitante área de
pesquisa, o Thio elucida a diferença entre a melancolia como característica e a
melancolia como momento, ou, em outras palavras, o ser melancólico e o estar
melancólico.
Cabe
aqui registrar a dificuldade que um tradutor inglês teve com essa parte do
livro, dada a sua notória inabilidade em diferenciar com precisão o to be melancholic do to be melancholic... Mas isso é outra
estória e nem vou aborrecê-los com tecnicalidades linguísticas e nem com a
inteligente solução dada pelo Thio Therezo a essa questão.
O
livro, ou compêndio, ou mesmo enciclopédia como já foi talvez corretamente chamado,
relata, em um primeiro momento, os sete tipos de melancolia como característica
e, depois, aprofunda-se em suas subdivisões primárias, chamadas de características
de segunda ordem, 43 no total. Por fim, mesmo sem se ater muito a uma análise
mais detalhada, há a divisão final como subtipos, 817 deles (e ainda
contando...).
Como um dos apêndices ao livro é apresentado um teste, com não mais do que 137
perguntas, onde o leitor pode testar em que estado melancólico se encontra (temporário
ou permanente) assim como o seu nível primário. Para se encaixar em algum dos
possíveis subtipos são, no entanto, necessários estudos mais aprofundados, que
envolvem inclusive sofisticadas tomografias cerebrais. É claro que o teste não
indicará nada de substancial se o leitor for um dos tais otimistas
incorrigíveis. Nesse caso, melhor mesmo é evitar essas questões.
Nem
é preciso enfatizar o impacto que essas ideias produziram nas diversas academias
científicas ao redor do mundo. Teses de doutorados abundam aqui e ali sobre o
tema. Aliás, há inclusive um curso de graduação na Universidad de La Dorada,
nas Ilhas Sultanesas, cujo conteúdo se baseia inteiramente no estudo feito pelo
Thio Therezo. A propósito, ele é professor emérito lá, um dos poucos com tal
honraria. Abrindo um parêntesis, o Thio um dia nos confidenciou que nunca
conseguiu entender como os habitantes de um lugar tão paradisíaco como são as
Ilhas Sultanesas pudessem se interessar tanto com um assunto como a melancolia.
Pouco importava realmente, ele adorava ser convidado a ministrar palestras por
lá...
Pois
foi justamente por ter escrito esse compêndio em tal nível de detalhes que o
Thio Therezo recebeu a pecha de melancólico, justo ele, quem diria? E essa foi
uma das principais questões que o diretor do documentário sobre a vida do Thio
quis esclarecer de forma definitiva. Durante uma das entrevistas ele foi direto
ao perguntar ao Thio se ele se considerava um ser melancólico. Mesmo diante da
tranquila e firme negativa, o diretor insistiu em seu questionamento, parecia
querer extrair algo a mais do Thio, talvez até uma lágrima convenientemente
filmada em foco fechado.
“Assim
como alguém que escreve sobre o suicídio não é necessariamente um suicida
(imaginem se isso fosse verdade, não haveria texto algum sobre esse
assunto...), quem escreve sobre a melancolia não precisa o ser...” respondeu o
Thio, e complementou sua resposta com uma teoria que quis apresentar ao mundo para
não deixar nenhum ponto obscuro nessa questão. Das sete horas gravadas que
durou a convincente resposta do Thio, o diretor aproveitou, em seu filme,
apenas quinze segundos. Também, daí para a frente, preferiu evitar qualquer
outra questão polêmica com o Thio.
Quanto
ao documentário em si, num outro momento...
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