O “Contos que conto” foi publicado em 1991 como parte da premiação da “5ª. Bienal Nestlé de Literatura Brasileira”, pois o livro obteve o terceiro lugar na categoria Conto. Foi publicado pela “Editora Estação Liberdade” e contou com o belíssimo trabalho editorial do nosso querido Jiro Takahashi. Há muito esgotado, ainda amigos e colegas me perguntavam sobre como conseguir um exemplar. Enquanto o meu (pequeno) estoque sobreviveu, pude suprir a curiosidade deles, mas agora já não os tenho mais para distribuir. Resolvi, então, preparar uma segunda edição no formato e-book.
Essa edição digital, que conta com a belíssima capa feita por Ayssa Bastos, já está à venda na Livraria Cultura , na Livraria Saraiva ou na Amazon .
Quando se olha para trás (e lá se
vão vinte e cinco anos da publicação desse meu primeiro livro), percebe-se o
quanto tudo mudou nesse tempo. Ainda tenho a primeira versão datilografada do
livro e, claro, percebi que não a tinha em nenhum meio digital. Precisava
digitalizar todo o livro e optei por redigitá-lo pessoalmente, atitude
temerária, percebi logo. Se, por um lado, foi bom recuperar de alguma forma os
sentimentos que tive ao escrever esses contos pela primeira vez (sim, muita
coisa volta à mente e você revive cada instante), por outro lado, deu-me uma
coceirinha para reescrever algumas partes deles (como diria a paçoca: não é nada disso... jogue no lixo esse lixo,
e reescreva!). Não o fiz, porém, e por dois motivos. Acho que, mesmo tendo
esse pensamento de reescrita em mente, natural que é por conta de vinte e cinco
anos de vida vivida desde então, qualquer modificação seria injusta para com o
que escrevi naquela época, qualquer modificação poderia inclusive me levar a
perder algo que foi considerado positivo à época em que ganhei esse prêmio. E
como reescrevê-los? Muitas motivações já se perderam, já outros cinco livros publicados
se embaralham nesse tempo que passou, e como passou rápido...
Não, preferi deixar os contos do
jeito que foram escritos quase trinta anos atrás: o “Postal”, conto de abertura
do livro e, por coincidência, o primeiro conto que escrevi na vida foi escrito
em 1987! O que ocorreu foi que acertei alguns errinhos de digitação da primeira
versão, além de atualizar a acentuação de algumas palavras, nada que comprometa
a fidelidade ao texto inicial. Cacoetes literários (e os há abundantemente)
ficaram, mas a isso podemos chamar de estilo.
E, claro, outros errinhos de digitação podem ter sido incorporados.
A Comissão Julgadora na categoria
Conto da 5ª. Bienal foi formada por: Bella Jozef, Ignácio de Loyola Brandão,
João Antônio, Moacyr Scliar e Muniz Sodré. Sempre fui grato a todos eles pela
oportunidade dada de ver o meu primeiro livro publicado e, em especial, agradeço
o gentil texto que o Muniz Sodré escreveu sobre esses meus contos, texto que
transcrevo abaixo.
Comentário
de Muniz Sodré
Há uma espécie de “minimalismo” nos
contos de Flávio Coelho, que consiste não no mero encurtamento dos textos, mas
em insuflar na prosa o espírito da economia de meios e da repetição calculada
de situações, de tal maneira que o tema vibra constantemente sob as frases. E
aí está uma virtude de escritor: provocar isomorfismo entre a forma e a
fabulação, para que permaneçam no leitor o tom, a eventual musicalidade do
texto.
Isso é muito evidente em contos como
“Postal” e “Quatorze toques, geralmente”, não tão evidente em outros (onde às
vezes a linguagem se enrijece por certos anacronismos de expressão), mas não há
dúvida nenhuma de que em “Contos que conto” acontece essa intervenção singular
na língua a que se tem chamado de estilo. O universo homogêneo e recorrente que
emerge da criação é o nosso velho quotidiano, perscrutado com lente especial.
Não deixa de ser reconfortante verificar
que, em meio à crise da palavra escrita e à banalização da narrativa pelo lixo
literário, a literatura resta, germinal, como semente de verde na fresta do
asfalto.
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