Mas
esse jogo me excita. Tiro o que me resta de roupa e me acaricio, te imaginando
aqui ao meu lado a me beijar, a me tocar, sim Nini, a beijar o que estou
tocando. Mas não, Nini, por uma crueldade tua, ou do destino, ou do arquiteto
que não fez o meu quarto no mesmo lugar da tua sala, sim por causa disso não
estás aqui ao meu lado agora. Estás, isto sim, consideravelmente longe para
aquilo que quero e imagino. Infinitamente longe e não é apenas física esta
distância.
Por um instante eu te perdi, Nini, pois sumistes
para dentro do apartamento enquanto o teu bigodudo namorado ficava no sofá
errado com as calças um tanto quanto mais justas do que quando chegou,
provavelmente vindo naquela moto cuja marca eu não sei mas na qual estavam
vocês dois, sim os dois, parados em frente à Brunella do Ibirapuera, naquele
domingo em que eu também estava lá, não percebestes, é claro, mas eu estava lá
na companhia dela. Mas eu te percebi e, disfarçadamente, às vezes te olhava sem
sequer receber um sorriso, um único sorriso ao menos como troco. Crueldade,
Nini.
E tu demorastes a voltar à cena,
Nini. Talvez, minha mente funcionava, tu espantada estivesse olhando a tua
calcinha molhada pelos desejos, tão molhada quanto eu com este suor que
percorre o meu corpo. Ou talvez até estivesses te excitando longe do teu bigodudo
namorado, talvez até por vergonha ou recato. Ou não. Talvez, Nini, não sei, só
estou especulando.
E
tu não voltastes à cena, àquela pequena cena que eu, com um pouco de esforço,
consigo ver por detrás da fresta da janela. Além da sala consigo ver o quarto
de teus pais, pelo menos eu acredito que aqueles dois os sejam. Ou talvez, quem
sabe, tu serias uma órfã adotada por aquele simpático casal que já tinha duas
filhas gordinhas e um rapaz como filhos. Mas isso, mania minha, seria complicar
demais esta estória que para todos os efeitos é irreal porém verdadeira (ou ao
contrário, não importa). Vamos então supor que aquele casal que dorme no quarto
que eu consigo ver daqui sejam teus pais e em cujo quarto eu já flagrei tua
mãe, mãe por suposição, trocando de roupa. Assim também como já flagrei tua
irmã mais gordinha, sempre ela, experimentando uma roupa, talvez nova, na sala.
Na certa a aproveitar o espelho que tem na sala em cima de certo sofá certo que
vocês evitaram esta noite e que é o melhor para a minha visão como todos nós já
sabemos.
Mas não importam, Nini, nem a tua
mãe, suposta mãe, nem a tua gordinha irmã, agora já inconfundível e sim tu
Nini, que agora retornas à cena para alegria e espanto da galera vestindo
aquele shorts que eu gosto tanto e que talvez ele, o bigode, também
goste.
E
eu sei que tu, Nini, nunca irias vesti-lo para mim, tu que sequer sabes o nome
daquele que te olha por detrás da fresta da janela e sequer desconfias disso,
pelo menos assim penso eu. E mesmo que o soubestes, que soubestes que há alguém
a te espreitar por detrás da janela do prédio ao lado do teu, mesmo assim não
haverias de descobrir o meu nome. Não terias a mesma sorte que tive ao
descobrir o teu nome em uma ruidosa festa de aniversário. E nem terias meios de
me vigiar pois a dita cuja janela eu a mantenho fechada e, a menos que tu
peças, assim ficarás. Não pedirás, não é Nini? Pois sequer sabes que…
E o shorts com o qual
entrastes na sala é aquele que me faz ter as melhores visões de ti e o que
permites fazer com que o meu sangue irrigue as regiões apropriadas com maior
intensidade. E que de costas, tu, Nini, me permites sentir melhor, mesmo à
distância, tuas belas e joviais curvas que eu tanto gostaria de tocar e que
alguém toca em meu lugar e tu Nini, charmosamente se desvencilha até o próximo
ataque, que virá certamente e logo. Doce jogo do qual só participo à distância,
me excitando.
E o clima se aquece, tu por vezes
cede um pouco mais e as mãos dele que não são as minhas percorrem por mais
tempo a tua bundinha e tu rebolas, Nini, de um jeito que nunca tinha visto,
pois sim tu estás em uma boa posição agora e com certeza ele também concorda
com isto pois suas mãos te percorrem com mais intensidade e intimidade e tu
Nini agora te permites ser acariciada e por vezes rebolas se esfregando no
bigode que já não vejo mais pois ele está deitado no presentemente mal
escolhido sofá, contigo por cima. Mas quem se importa em não vê-lo? O que
importa é que te vejo, vejo tuas pernas arrepiadas ao menor toque, toque dele
que não é melhor que o meu, tu sabes, Nini e só vejo o teu shorts
diminuir a cada passada de mão dele pela tua bundinha, bela bundinha tu tens,
Nini. E vocês se beijam e o calor me provoca mais suor. E tu Nini entreabre as
pernas, esticadas e arrepiadas pernas, o bigode põe uma mão por entre elas até
chegar onde eu queria chegar e agora, quando ainda estou de pau duro, tu
rebolas toda, estás excitada Nini, posso ver que estás, tanto quanto eu estou.
Mas não deixo de te olhar, não consigo evitar, tu não paras mais quieta, tu
rebolas, te esfrega toda nele e ele te ajuda acariciando, eu me acariciando e o
teu shorts, Nini, fica cada vez menor e me permite ver, quase, toda a
tua bundinha e tu abres um pouco mais e mais as pernas e os dedos, os deles que
por uma crueldade do destino não são os meus, os dedos chegam até onde deve
estar molhado e tu gemes, não ouço, como poderia Nini? mas sinto.
Vocês
gemem.
Eu
também.
E
aquela cena ficou em minha mente. Tu, Nini, que fizestes que eu acordasse no
meio da noite, suado e que só permitistes que eu dormisse três horas depois,
tu, Nini, deve ter gozado no mesmo instante que eu. Eu senti isso. Tu
apertastes tua bundinha, Nini, e os dedos do bigode, que na certa não são melhores que os meus, tenha a certeza disso,
eles chegaram ao molhado que tu até agora só permitira em sonhos. Eu ainda
sonho, Nini.
Naquele
dia que deve ter sido um sábado ou uma sexta-feira, deixei estes papéis em cima
da mesa, bocejei e três horas após ter acordado, suando, dormi. Sozinho como em
tantas noites anteriores daquele início de fevereiro do verão de 1986. E como
as outras tantas seguintes em que ela não dormiria comigo. Noites em que
dormiríamos mais sozinhos que todas as outras daqueles tempos.
Ela
não dormiria mais comigo.
Nem
tu, Nini.
Crueldade.
março/86 – maio/87
São Paulo - Liverpool
[[Esse conto, Nini, apareceu em meu livro de contos Ledos Enganos, Meras Referências, publicado em 1996 pela Editora Escrituras. A primeira parte foi publicada aqui no blog na semana passada]]