Nostalgia
Foi no exato instante em que o ônibus de excursão chegou
àquela fatídica esquina que um persistente e incômodo clima de nostalgia tomou
conta do guia que, segura mas imperceptivelmente, gaguejou naquele momento a
sua explicação. Todos tão entretidos com a excitante cidade que nem notaram o
embaraço do moço naquele momento tão pessoal quanto misterioso. Tão somente a
garotinha sardenta da terceira janela à direita percebeu a sutil mudança no tom
de sua voz e imediatamente desviou seus olhos para dentro do ônibus,
cruzando-os com os dele em uma embaraçosa cumplicidade.
Por muitos anos ainda, ela seguiria se perguntando o que de
tão especial teria acontecido naquela esquina aparentemente sem graça...
O adeus no papel pardo
A primeira vez que ela escreveu um adeus foi no papel pardo
da padaria, ainda meio engordurado de manteiga, resquício do último café da
manhã deles juntos.
Hoje,
o papel pardo que ela usa é o reciclado, sem gordura mas com história,
reciclado como o adeus que ela agora escreve...
[[Esses vinténs apareceram inicialmente em meu livro "Contos&Vinténs" publicado pela Editora A Girafa, 2012.]]
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