quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

um par de vinténs



Nostalgia


          Foi no exato instante em que o ônibus de excursão chegou àquela fatídica esquina que um persistente e incômodo clima de nostalgia tomou conta do guia que, segura mas imperceptivelmente, gaguejou naquele momento a sua explicação. Todos tão entretidos com a excitante cidade que nem notaram o embaraço do moço naquele momento tão pessoal quanto misterioso. Tão somente a garotinha sardenta da terceira janela à direita percebeu a sutil mudança no tom de sua voz e imediatamente desviou seus olhos para dentro do ônibus, cruzando-os com os dele em uma embaraçosa cumplicidade.

          Por muitos anos ainda, ela seguiria se perguntando o que de tão especial teria acontecido naquela esquina aparentemente sem graça...





O adeus no papel pardo


          A primeira vez que ela escreveu um adeus foi no papel pardo da padaria, ainda meio engordurado de manteiga, resquício do último café da manhã deles juntos.
          Hoje, o papel pardo que ela usa é o reciclado, sem gordura mas com história, reciclado como o adeus que ela agora escreve... 




[[Esses vinténs apareceram inicialmente em meu livro "Contos&Vinténs" publicado pela Editora A Girafa, 2012.]]


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