Primeiro a gente vai assistir a um daqueles filmes. Um
clássico do cinema iraniano, por exemplo, onde nada acontece a não ser a interminável
imagem imóvel em preto e branco. Amigos insones e aparentemente desinteressados
carregando bolsas de pano contendo manifestos amarelados que nunca leram ou
entenderam nos acompanham nessa empreitada.
Às vezes, ao invés, procurávamos uma daquelas peças
alternativas dirigidas pelo velho magro de olhar arrogante e cabelos grandes e
cinzentos, consistindo de, também intermináveis, cenas orgiásticas e interações
ininteligíveis com o público que só está lá para, singelamente, pagar o mico. O
gordinho aqui é um dos alvos prediletos, junto com o pescoçudo de olhar
inteligente e cabelo desgrelhado da quinta fileira.
Daí, vamos ao nosso restaurante vegan predileto... Sempre achei que
comer aquelas comidas se constituía em um ato de contrição, pura auto punição.
E pecados deve haver aos montes, assim aprendi na catequese e assim constato
depois da intragável n-ésima garfada.
Por vezes, uma cerveja de trigo
integral no barzinho da esquina antes de voltar para casa na companhia de
casais amigos, onde repetiremos até a exaustão nossas discussões de variadas
filosofias. Alternativamente, nossa vida social terminaria em um sarau de
poesia alternativa ou em uma daquelas performances urbanas cuja principal
diversão era simplesmente teorizar o arbitrário de nossa vida tacanha.
Por fim, fazemos nosso amor apressado,
silencioso e de pernas fechadas no sofá de seu apartamento. Mas gozávamos
satisfeitos sempre, sempre foi bom assim e nem pensamos em mudar.
Boa
noite, querida, amanhã é domingo e dia de andar de bicicleta na recém
inaugurada ciclovia...[[Esse conto apareceu em meu livro Conto&Vinténs publicado pela Editora A Girafa em 2012.]]
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