quinta-feira, 11 de março de 2021

Vinténs - VI

Dívidas Pagas

 

          Naquela noite, ao atravessar a porta de seu apartamento depois do trabalho, sentiu algo que há muito buscava. Sua mão tateou, no escuro, o interruptor de luz e a acendeu. Lentamente, como há tempos não fazia, tirou os seus sapatos e entrou no apartamento só de meias, os dedos sambando deliciosamente satisfeitos. Chegou-se à sua poltrona predileta, sentou-se, encostou sua cabeça e fechou os olhos. Estava tranquilo, tranquilo é a palavra certa, ele pensou serenamente. Permitiu-se então todo o tempo que quis e merecia para recordar os acontecimentos do dia, sorrindo sozinho a cada instante. Tinha finalmente pago as suas dívidas morais com uma série de pessoas, aliás, com todas com quem as tinha.

          E isto o deixava tranquilo. Era a palavra certa, tranquilo.

          Adormeceu, então, de bem com a vida.

 

São Paulo, 1 de 8 de 8



Dualidade


          Transito entre um eterno pessimismo pragmático e um intermitente otimismo cauteloso.

 

Mendoza, março de 2012



                          


[[Vinténs publicados no livro "Contos&Vinténs", Editora A Girafa, 2012]]


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