Às vezes, uns gritos, gemidos em meio a um incômodo
silêncio, me acordam no meio da noite. O suor frio me imobiliza, me prende à
cama. Quando consigo, levanto-me, vou ao banheiro da suíte de casa, subo na banheira
para ter uma boa visão da rua pela janela alta. Mas nada! Ouço gritos de
desespero, angustiantes gemidos, mas nada vejo, e, no entanto, parece a voz de
meu irmão.
Não há nada pior do que gritos de desespero no meio da
noite, nada pior do que isso na escuridão do medo. Pareço impotente, estou
impotente, sou impotente nesses momentos. Suo, ouço, assusto-me, amedronto-me,
estou preso à cama, sinto meu peito arder ao escutar esses gritos todos vindo
da rua. São do meu irmão? Não sei, parecem ser, temo que sejam.
Arrisco olhar e ele não está na cama ao lado. Ainda ouço os
gritos que me acompanharão pelo resto da vida, noites insones me atemorizarão
até o fim. Custo a dormir novamente, mesmo com o inquieto silêncio que agora
volta a reinar, só dormirei mesmo quando o coração voltar ao normal. Quando
acordo, finalmente, vejo que ele está bem, dormindo, ressonando tranquilamente
na cama ao lado, mas a experiência, essa noite desesperadora, me acompanhará ao
longo de vários dias ainda, o temor e a angústia presentes em meu cotidiano.
De resto, tenho uma boa vida, nada para reclamar...
Bogotá, março de 2012
[[Este conto apareceu inicialmente no livro Contos&Vinténs (Editora A Girafa, 2012).]]
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