quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O dia mais triste do ano...


           
 Imagina que você viva em um lugar constantemente nublado, chuvinha fina colocando à prova toda a sua paciência, bolor e mofo te aporrinhando por toda a parte. Imagina que você está em uma época do ano em que os dias são curtos, pouca luz natural. Agora, imagina que é segunda-feira, o dia maldito para nove entre dez habitantes desse planeta. E imagina que já se passaram dias suficientes no novo ano para você se convencer que as suas resoluções de primeiro de janeiro estão longe de serem realizadas. Ou ao menos é isso que diz a balança, a preguiça para ir à academia, o telefone mudo que não traz aquelas notícias profissionais ou amorosas que tanto esperamos.
            Não por acaso, a terceira segunda-feira do ano foi decretada como sendo o dia mais triste do ano por um tal de Dr. Cliff Arnall, que se autodenominou um psicólogo da Universidade de Cardiff, apesar dessa universidade ter negado. Blue Monday, assim foi denominado esse dia especial e, é claro, com o anglo centrismo tão peculiar a eles, o dia foi tornado universal.
            Mas acontece é que esse tal de Dr. Arnall não se contentou em argumentos como esses acima para decretar o Blue Monday. Em uma necessidade de se “cientificar numericamente” tudo que nos cerca ele inventou uma equação para se chegar a essa mesma conclusão.
A equação, que não copiarei aqui para não deprimir quem quer que seja, foi inicialmente feita para se analisar quais os dias mais propícios do ano para se viajar e leva em consideração variáveis como o tempo de viagem, atrasos, tempo gasto em atividades culturais, dormindo, simplesmente relaxando e tempo de preparação da viagem e da mala. Uma verdadeira salada de frutas. Aparentemente, de acordo com essa fórmula, se você gastar mais do que dez horas fazendo a sua mala, terá uma excelente viagem (pensando bem, talvez isso até faça sentido...). Mas foi utilizando-a que o Dr. Arnall chegou à conclusão de que o Blue Monday era um péssimo dia para se viajar.
Uma segunda versão da fórmula proposta pelo Dr. Arnall, agora sem a vinculação a uma viagem, e apenas para se calcular o dia mais triste de uma pessoa levava em conta as variáveis: tempo, débitos, salários, dias desde o Natal, dias para se perceber que as resoluções de ano novo iriam falhar, nível motivacional (seja lá o que isso signifique...) e, por fim, nível de sentimentos de que algo precisa ser feito para se conseguir alguma mudança (que ele consegue mensurar numericamente!). Uma ou outra fórmula trará o mesmo resultado quanto ao tal pior dia.
A propósito, se você está lendo este post é porque sobreviveu ao Blue Monday desse ano, que foi dia 18 de janeiro. Em todo o caso, para nós, brasileiros, isso faz muito menos sentido com esse solzão, em um período em que muitos têm férias e por conta de nossas características culturais, apesar das dívidas crescentes e das resoluções frustradas de ano novo...
Ah! Não por coincidência, o dia mais feliz do ano de acordo com os estudos do Dr. Arnall  cai em junho, bem próximo ao dia mais longo do ano no hemisfério norte. Também pudera, poucos não gostam do sol reinando até a meia noite, ainda mais em uma cidade como Cardiff e sua famosa baía.
E por falar nisso, a bela cidade de Cardiff não merecia ser relacionada a algo tão farsesco quanto isso. A capital do País de Gales tem um castelo muito interessante e construído em um sítio que serviu como forte romano no primeiro século da era cristã. O que se chama atualmente de castelo normando data de século XI e segue lá imponente no alto de uma colina. Ao lado, um palácio vitoriano ampliado e renovado constantemente durante o século XIX. O arquiteto, em seus arroubos artísticos, foi construindo e decorando inúmeras salas, cada uma com sua particularidade mas, em seu conjunto, uma verdadeira salada de frutas (como a equação do Dr. Arnall). Já foi descrito como uma “fantasia oitocentista de palácio medieval de conto de fadas” e isso já diz tudo.
O que chama também a atenção são certos túneis subterrâneos que circundam o castelo e que, nos tempos recentes, foram utilizados como refúgio aos bombardeios tão frequentes na segunda guerra mundial. Ao se entrar neles, móveis e equipamentos dessa época estão expostos nos corredores e, no melhor estilo onomatopeico atual, somos abatidos por sons de bombas caindo e crianças gritando. Prá quem gosta desses efeitos, um prato cheio.

De minha parte, a terceira segunda-feira do ano foi muito boa, apesar da gripe que tem me atacado. Como faz tempo que não acredito em resoluções de ano novo e as segundas-feiras tampouco me atormentam, o saldo foi bem positivo.  

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