quinta-feira, 23 de junho de 2016

Conversa de elefante.

[[esse conto foi primeiramente publicado em meu livro "Ledos Enganos, Meras Referências", 1996]]


         Sei que você não vai acreditar em mim, mas hoje eu estou feliz, e até aquela vontade de dar um tiro no ouvido já passou
            sei que você pode até não acreditar em mim, este é o risco que tenho que correr, mas eu sou até capaz de ir até aí e lhe beijar
            sei que não tenho a mínima chance de me fazer crer, concordo até que é difícil depois de tudo aquilo, mas por que é que não fazemos as pazes hoje?
            sei, não precisa me dizer que eu sei
            sei, mas por que é que você não sorri para mim um daqueles seus sorrisos?
            sei, não lhe apetece...
            sei, lhe apetecerá logo, quer ver?
            sabe, eu gosto de você
            sei, não parece, mas é verdade sim
            sabe de uma coisa? eu seria capaz até de lhe convidar a dar uma volta no parque aqui perto
            sei, não acredita, não é?
            viu, lhe convidei e você não aceitou
            sei, não está a fim
            sabe, nem eu tampouco
            sei, sei
            viu, bonito dia, não?
            sei, prefere quando chove
            sabe de uma coisa? este papo já me aborrece, vamos fazer as pazes logo, vai?
            sei, só quando eu pedir desculpas
            sabe, bem, você sabe que isso é difícil para mim
            sei, sei, devo tentar
            viu, tentei, pedi desculpas e você nem aí, nem um sorriso

            viu, apeteceu...

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