O
desejo precede sua racionalização.
Por
fim, uma implacável sentença.
Grande
jurista que é, quando o Thio Therezo anunciou em uma concorrida entrevista que
estava preparando um livro sobre a Teoria
do Domínio do Desejo houve sim um inesperado rebuliço entre os intelectuais
do país. Sabedores da linha jurídico-filosófica do Thio, muitos juristas já se
preparavam para a necessária contestação, para o desejado e previsível
sangrento contra ataque às suas supostas teses.
Era uma
época em que outra teoria jurídica estava muito em voga para justificar a
limpeza moral da vez, tão acostumado estava nosso país com esse recursivo
discurso. Em todo o caso, se uma teoria
ou doutrina é utilizada de forma equivocada, culpa não há de quem a formulou,
como bem escreveu o Thio no preâmbulo de um de seus mais famosos livros.
Até entrou
em cena o pessoal do Instituto de Doutrinação Política, chamado carinhosamente
de idepê. O idepê se mobilizou para chamar um debate público entre os
intransigentes defensores da Teoria do
Domínio do Fato e o Thio Therezo, mesmo sem esse instituto ter a mais
mínima ideia das possíveis bases jurídicas que eventualmente constassem na Teoria do Domínio do Desejo, apenas
anunciada sem mais detalhes ou alardes.
Não que houvesse, na
sociedade, disseminada oposição entre essas duas teorias, pois haviam aqueles
que apostavam na complementariedade delas, pois desejos e fatos caminham de
mãos dadas em certos meios, todos sabemos disso. Não, porém, para o idepê, que
acreditava que a nova teoria poderia desacreditar o que foi feito em nome da
velha. De acordo com um jurista-político-ministro que pediu anonimato em sua
declaração, “é preciso arrancar logo essa
erva daninha antes que contamine tudo, urge aniquilar as teses desses
canalhas...”
Mas o alvoroço criado nas
arcadas não se justificaria nem mesmo se o livro esperado (ou temido, alguns
diriam...) tivesse sido escrito e publicado. Não que o Thio Therezo não
possuísse todas as qualidades intelectuais e culturais para desenvolver uma
nova teoria jurídica de peso, mas sim que o livro que o Thio tinha em mente e
anunciara publicamente nada se aproximava do Direito. Era, ou seria no melhor
dizer, um livro de psicologia, de relações humanas, de desejos cotidianos. Ou
de auto-ajuda, no dizer enciumado de seus constantes detratores.
Thio Therezo, no entanto, só
se inteirou da polêmica criada quando ela já estava avançando aos cadernos
políticos e culturais da grande mídia paulista. O Thio tem dessas manias, por
vezes pratica suas imersões espirituais que duram dias ou semanas e nada do
mundo real o atinge nesses períodos. Mas, quando momentaneamente emergiu dessa
e soube da polêmica, apenas comentou conosco:
- Bando de loucos... tanta
confusão por conta de um livro ainda a ser escrito sobre nossos desejos mais
internos... nada a ver com teorias jurídicas e quetais... Bah! Tenho mais o que
fazer...
E retornou à sua necessária imersão.
A escrita do livro, o Thio Therezo
anunciou tempos depois, dera espaço a novas inquietações e fora abandonada de
vez. Ele tem dessas manias, seus interesses mudam constantemente como os ventos
alísios. O livro nunca existiria, para alívio de alguns que sentiam que uma
teoria com esse nome, se jurídica fosse, só traria mais confusão no processo de
limpeza jurídico-partidária em que muitos tinham se envolvido naqueles tempos.
E o Thio, que bobo não é,
assim que pode foi a público esclarecer tudo. Os pitbulls estão à solta e,
dessa raça, distância é prudência e prudência nunca é demais.
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