quinta-feira, 6 de abril de 2017

O entusiasta, dois.

            Eu já contei essa história por aqui (O entusiasta do sistema decimal), mas a reconto agora. A mãe de Jorge Luis Borges morreu com 99 anos e, no seu velório, uma grande amiga dela se aproximou do escritor argentino e disse que mais um ano e a amiga teria chegado aos 100 anos. Ao ouvir isso, Borges teria respondido:
            “Vejo que a senhora é uma entusiasta do sistema decimal...”
            Muitos somos entusiastas do sistema decimal, eu inclusive, e é por isso que eu resolvi recontar essa história hoje quando estou publicando o centésimo post nesse meu blog. Não que 99 ou mesmo 101 não sejam números também interessantes, mas chegar aos três dígitos parece ser um marco pra lá de ordinário. E ainda bem que é o sistema decimal. Estivesse eu no mundo Maya onde o sistema numérico era vigesimal e demoraria muito mais para essa celebração. O que dizer então se me pautasse pelo sistema sexagesimal dos babilônicos?
            E lá se vão quase dois anos do dia em que decidi me jogar nessa aventura de escrever semanalmente por aqui. Certo é que fui adiando aquele início por vários meses por medo de não conseguir manter essa frequência. Mas tem sido um prazer, mesmo quando sob stress, forçar-me a publicar, algo que fosse, toda quinta-feira. Nelas já passei um aniversário, já um Natal, já um último dia do ano. E foram crônicas, lembranças, ficções e até me arrisquei a publicar poesia (mesmo envergonhado...).
            No começo, tinha sim um banco de emergência que continha contos e crônicas que estavam na gaveta esperando suas vezes de emergirem à vida cotidiana e, também, o plano de republicar alguns contos de meu primeiro livro (cuja segunda edição vai sair como livro digital nas próximas semanas). Mas também fui salvo na última hora por alguma lembrança até então perdida ou mesmo por algum fato corriqueiro (como o cachorro atravessando a rua quando voltava de Mar del Plata no ano passado) e que pode virar uma crônica. Algumas quartas-feiras foram estressantes, ansioso que sou.
            E, claro, o Thio Therezo e suas estórias. Por falar nele, recebi ontem um cartão postal (é... ele é ainda do tempo em que se mandava cartões postais) parabenizando-me pelo centenário e completa dizendo que ainda deve desfrutar de suas férias por mais algum tempo... Ele nem se importa em ceder momentaneamente o seu espaço no blog ao inseguro e solitário personagem da série “O que você pediria?”
            Mas sim, vezes faltou inspiração... vezes faltou tempo para burilar melhor o texto... vezes faltou coragem de publicar certas coisas... vezes faltou ser mais explícito... ou menos explícito, talvez... vezes faltou ser mais poético...
            Mas o que não faltou foi o carinho de quem me leu, e olha que eu sou muito grato àqueles que me acompanham fielmente todas as semanas (que deve, no entusiasmo do sistema decimal, passar dos dois dígitos...).
            No começo do ano, cheguei a 10 mil visualizações (olha aí o sistema decimal de novo me entusiasmando...). Mas, pouco depois, o contador de visualizações entrou em um estágio amalucado aumentando, sem precisão ou coerência, os números e quando bateu nos 17 mil após meia dúzia de semanas, resolvi retirá-lo do ar (quando ele resolver se comportar de novo, voltará). Quem convive comigo no dia a dia sabe dessa minha incompatibilidade tecnológica, não há computador que funcione nas minhas mãos, não há sistema computacional que se entenda comigo... deve ter algo a ver com a minha geração ou signo, ou ambos.
            Foram quase dois anos em que, à parte do blog, também finalizei um romance que acaba de sair (“Pigarreios”), trabalhei no relançamento de meus dois primeiros livros de contos em forma digital (logo logo sairão!) e, segredo ainda, o primeiro livro infantil. Além de outros projetos que realmente são secretos.
            Esse marco, cem quintas-feiras, me anima a tentar chegar a mais cem e, passo a passo, ver até onde o fôlego aguenta.
            Só tenho a agradecer o carinho de meus leitores e, quem sabe um dia, poder reuni-los todos em torno de uma taça de vinho e de uma boa conversa.

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