Faz
tempo isso, mas todos nós nos lembramos bem do desconforto do Thio Therezo ao
receber o seu primeiro título, e foram tantos depois, de doutor honoris causa. Não que essa concessão não tivesse sido merecida,
e todos sabemos que sim o fora, a questão era outra, definitivamente outra.
O Thio,
com a educação que teve, e ainda mais com a vida que levou tendo que batalhar duramente
cada centímetro de sua reputação, cada segundo de seu reconhecimento, sem apadrinhamentos,
QI´s ou, como se diz atualmente, sem um mísero networking, sim, o Thio não
achava justo receber uma honraria dessas sem, a seu ver, uma retribuição à
altura.
Não que
aquele longínquo título de doutor honoris
causa, ou cada um dos outros tantos e tantos que viria a receber, não fosse
um justo reconhecimento ao que tinha conseguido em sua produtiva vida, mas o
fato de não haver uma tese vinculada ao título o incomodava. Se outros doutorados
eram concedidos por conta de teses defendidas, por que o dele seria diferente?
Aquele
primeiro honoris causa o incomodou
tanto que, dali para frente, sempre que era agraciado com um título dessa
natureza, o Thio postergava a sua entrega até que tivesse escrito uma tese que
o justificasse.
E que
teses ele escreveu nesses anos todos! Uma para cada um dos tantos títulos
recebidos desde então.
E todas
elas relacionadas com as faculdades que as concediam. Se era uma faculdade de
medicina, então lá ia o Thio a escrever um belo e quase definitivo tratado
sobre a cura de uma doença mal estudada. Letras? E o mundo recebeu de presente
um aprofundado estudo sobre a influência das línguas latinas em suas congêneres
do leste europeu por imigrantes neozelandeses. E aquela memorável tese de
literatura comparada? Um estudo primoroso sobre as conexões neoclassicistas dos
escritos de Coelho Neto e Hemingway. Direito? São tantas teses de direito, na
maioria polêmicas, que fica difícil destacar uma que fosse.
Mas, bom
ressaltar, o que mais o impulsionou a escrever essas teses foi o fato de
receber a honraria do título de doutor em um dois de julho (e nem foi por conta
da data de suicídio do já mencionado Hemingway).
Começou com
uma brincadeira de um amigo, docente de uma faculdade de história, que,
conhecendo a data do aniversário do Thio, agendou a entrega de um título de doutor honoris causa para o dia dois de
julho. O Thio, em retribuição, escreveu uma belíssima tese sobre a
independência da Bahia, texto muito comemorado, à época, entre os acadêmicos de
história do Brasil.
Acontece
que, par de anos depois, o Thio brincou com o amigo que precisava receber um
novo título em um dois de julho para poder escrever o segundo volume revisando parte
de sua tese sobre essa importante data da história brasileira. O amigo, curioso
para ver esse novo estudo histórico, providenciou, sem dificuldades, um novo
título para o Thio. Os reitores das universidades desse nosso país sabem que
conceder alguma honraria ao Thio recai também, e muito, a quem o concede e, candidatos
que sempre são a secretário ou quem sabe ministro de estado, eles não hesitam
nessas horas.
E a
atualização do estudo do Thio foi aclamada nos meios acadêmicos de forma sem
igual.
Assunto
como esse sempre demanda novas e novas investigações e atualizações e foi por
conta dessa necessidade que a entrega de títulos daquela instituição ao Thio na
famosa data virou, digamos assim, rotina. A cada quatro ou cinco anos, lá íamos
nós festejar o dia dois de julho em uma cerimônia no salão nobre daquela
universidade.
Assim,
teses e concessões de títulos se sucederam e chegamos a esse mais recente dois
de julho quando o Thio recebeu, das mãos de um recém empossado e empolgado reitor,
o seu mais novo titulo honoris causa,
mas com thesi... Inspirado, Thio
Therezo produziu o que seria a sua definitiva tese sobre o movimento de
independência da Bahia e deu por encerrada sua contribuição nessa direção.
Se foi
por satisfação interior com o resultado conseguido, ou se foi porque a
cerimônia dessa vez fora muito caprichada, ou quiça tenha sido porque, por iniciativa do
reitor, os presentes terem cantado um feliz
aniversário em sua homenagem, com direito a bolo e tudo, o fato é que o Thio
se emocionou sobremaneira dessa vez e quase que se deu ao luxo de derramar
algumas lágrimas. Evitou-as, como convêm em um ambiente cheio de retratos de
ex-magníficos.
Faltou
apenas, todos nós percebemos, o bolo de nozes que sua mãe fazia quando ele era
o aniversariante e que ele tanto sente falta.
Quanto
aos títulos e aos doisdejulhos,
sabemos que outros virão, Thio, outros virão...
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