Há inúmeros
motivos para se festejar o dia dois de julho e certamente pouca concordância sobre
o principal. Há quem insista, por exemplo, que o mais importante é o
aniversário do Thio Therezo mas é justo dizer que nesse grupo o próprio Thio
não se inclui, humilde que é e sempre foi. Quando perguntado sobre quando aniversaria,
o Thio responde que é no dia dos bombeiros, o que, além de dar um charme
todo especial à data, acrescenta credibilidade. Faz todo o sentido, ainda mais
que o seu ascendente zodíaco é libra.
Mas vá lá
você mencionar ao pessoal da cidade baiana de Guanambi a data dois de julho e dificilmente
conseguirá se livrar tão cedo das histórias envolvendo o estádio de futebol local.
Ouvirá de tudo e mais um pouco, mas pouca convergência, no entanto, sobre o
principal jogo lá disputado, é claro que os torcedores dos dois times que lá
mandam seus jogos jamais iriam chegar a um acordo. Dizem muitos que foi o jogo
entre Flamengo de Guanambi e o Esporte Clube de Vitória no dia dezenove de
março de 2016. Outros apontam os jogos do Guanambi Atlético Clube que, de 2004
a 2011, disputou a segunda divisão do campeonato baiano tendo, por duas vezes,
sido o seu vice-campeão.
Mas, historiadores
isentos de paixões futebolísticas não se digladiarão sobre a importância do primeiro
jogo noturno daquele estádio em quatro de março de 2016 e que abrigou um
Flamengo de Guanambi versus Fluminense de Feira de Santana. O, por que não, clássico valeu pela quinta
rodada do campeonato baiano de 2016 e foi vencido, no sufoco, pelo time local pelo
magro placar de dois a um.
Não só a
iluminação noturna fora inaugurada nesse dia mas também a mais completa das
reformas do cinquentenário estádio. De acordo com os registros da imprensa
local, foram construídos não só novos vestiários como também novas cabines de
rádio. Gramado novo e uma até então ausente tribuna de honra completavam, com
louvor, a reforma, motivo de orgulho da cidade naqueles anos difíceis.
Sei que o Thio
não gosta que eu comente, mas seria injusto não mencionar a sua presença na
tribuna de honra naquele importante dia. Disputado pelas duas torcidas, a sua
presença no estádio se devia não só ao fato de ser um especialista da história
do futebol baiano mas, também, à coincidente data, aniversário de um, nome de
outro. A propósito, não deveria contar uma indiscrição por aqui, mas consta que
naquele dia inaugural um dos vereadores, já devidamente alcoolizado e sem noção
alguma do passado baiano, discursou no intervalo do jogo atribuindo, em sua
fala, o nome do estádio ao aniversário do Thio. Foi meio constrangedor, mas
como conhecimento histórico não é o forte desse pessoal, tudo foi perdoado.
Mas acontece
que, jogo em andamento, muitos se voltavam ao Thio para que ele contasse e
recontasse e voltasse a contar as histórias do estádio e dos clubes de Guanambi.
De como, por exemplo, um antigo jogador, o Isaías Cotrim, fora o responsável
pela viabilização da construção do estádio inaugurado em 1964. Do chute inicial
do jogo inaugural dado pela meiga Doralice Cotrim naquele longínquo dia. Dos
jogadores locais que, injustamente, não se tornaram ídolos nacionais: o goleiro
Idalício Teixeira, o Pedro da Morte, o José Ciríaco ou mesmo o Horácio
Fernandes.
O Thio, a bem da verdade,
estava mais interessado no jogo que transcorria por trás de tantas pessoas que
o cercavam, queria vivenciar aquele ambiente de festa, confraternizar com os
torcedores e tentou até ir para o meio da arquibancada junto à torcida do
Flamengo de Guanambi. Mas, noblesse oblige, não houve maneira de escapar
da paparicação inconsequente de seus anfitriões.
Acabou não
vendo o jogo, cercado que esteve o tempo todo de inconvenientes de plantão. Sabemos
nós que ele, depois, se arrepende de não ter sido mais enérgico e ido fazer o
que mais lhe apetecia. Mas o Thio é o Thio, um de seus defeitos é justamente
tentar se adequar às circunstâncias, era um convidado de honra lá e assim
deveria se comportar, distribuindo sorrisos.
Consta que,
findo o jogo, ele conseguiu, em um descuido dos anfitriões, escapar para o Bar-rracão,
onde, em companhia saudável, pode beber à vontade e conversar com quem lhe
interessava, os verdadeiros torcedores do rubro-negro local. Foi lá que lhe
contaram um dos segredos da cidade, o porquê do estádio ser também conhecido
como Coelhão... e até hoje o Thio se diverte com essa estória.
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