quinta-feira, 4 de julho de 2019

doisdejulho - Coelhão



          Há inúmeros motivos para se festejar o dia dois de julho e certamente pouca concordância sobre o principal. Há quem insista, por exemplo, que o mais importante é o aniversário do Thio Therezo mas é justo dizer que nesse grupo o próprio Thio não se inclui, humilde que é e sempre foi. Quando perguntado sobre quando aniversaria, o Thio responde que é no dia dos bombeiros, o que, além de dar um charme todo especial à data, acrescenta credibilidade. Faz todo o sentido, ainda mais que o seu ascendente zodíaco é libra.
          Mas vá lá você mencionar ao pessoal da cidade baiana de Guanambi a data dois de julho e dificilmente conseguirá se livrar tão cedo das histórias envolvendo o estádio de futebol local. Ouvirá de tudo e mais um pouco, mas pouca convergência, no entanto, sobre o principal jogo lá disputado, é claro que os torcedores dos dois times que lá mandam seus jogos jamais iriam chegar a um acordo. Dizem muitos que foi o jogo entre Flamengo de Guanambi e o Esporte Clube de Vitória no dia dezenove de março de 2016. Outros apontam os jogos do Guanambi Atlético Clube que, de 2004 a 2011, disputou a segunda divisão do campeonato baiano tendo, por duas vezes, sido o seu vice-campeão.
          Mas, historiadores isentos de paixões futebolísticas não se digladiarão sobre a importância do primeiro jogo noturno daquele estádio em quatro de março de 2016 e que abrigou um Flamengo de Guanambi versus Fluminense de Feira de Santana.  O, por que não, clássico valeu pela quinta rodada do campeonato baiano de 2016 e foi vencido, no sufoco, pelo time local pelo magro placar de dois a um.
          Não só a iluminação noturna fora inaugurada nesse dia mas também a mais completa das reformas do cinquentenário estádio. De acordo com os registros da imprensa local, foram construídos não só novos vestiários como também novas cabines de rádio. Gramado novo e uma até então ausente tribuna de honra completavam, com louvor, a reforma, motivo de orgulho da cidade naqueles anos difíceis.
          Sei que o Thio não gosta que eu comente, mas seria injusto não mencionar a sua presença na tribuna de honra naquele importante dia. Disputado pelas duas torcidas, a sua presença no estádio se devia não só ao fato de ser um especialista da história do futebol baiano mas, também, à coincidente data, aniversário de um, nome de outro. A propósito, não deveria contar uma indiscrição por aqui, mas consta que naquele dia inaugural um dos vereadores, já devidamente alcoolizado e sem noção alguma do passado baiano, discursou no intervalo do jogo atribuindo, em sua fala, o nome do estádio ao aniversário do Thio. Foi meio constrangedor, mas como conhecimento histórico não é o forte desse pessoal, tudo foi perdoado.
          Mas acontece que, jogo em andamento, muitos se voltavam ao Thio para que ele contasse e recontasse e voltasse a contar as histórias do estádio e dos clubes de Guanambi. De como, por exemplo, um antigo jogador, o Isaías Cotrim, fora o responsável pela viabilização da construção do estádio inaugurado em 1964. Do chute inicial do jogo inaugural dado pela meiga Doralice Cotrim naquele longínquo dia. Dos jogadores locais que, injustamente, não se tornaram ídolos nacionais: o goleiro Idalício Teixeira, o Pedro da Morte, o José Ciríaco ou mesmo o Horácio Fernandes.
O Thio, a bem da verdade, estava mais interessado no jogo que transcorria por trás de tantas pessoas que o cercavam, queria vivenciar aquele ambiente de festa, confraternizar com os torcedores e tentou até ir para o meio da arquibancada junto à torcida do Flamengo de Guanambi. Mas, noblesse oblige, não houve maneira de escapar da paparicação inconsequente de seus anfitriões.
          Acabou não vendo o jogo, cercado que esteve o tempo todo de inconvenientes de plantão. Sabemos nós que ele, depois, se arrepende de não ter sido mais enérgico e ido fazer o que mais lhe apetecia. Mas o Thio é o Thio, um de seus defeitos é justamente tentar se adequar às circunstâncias, era um convidado de honra lá e assim deveria se comportar, distribuindo sorrisos.
          Consta que, findo o jogo, ele conseguiu, em um descuido dos anfitriões, escapar para o Bar-rracão, onde, em companhia saudável, pode beber à vontade e conversar com quem lhe interessava, os verdadeiros torcedores do rubro-negro local. Foi lá que lhe contaram um dos segredos da cidade, o porquê do estádio ser também conhecido como Coelhão... e até hoje o Thio se diverte com essa estória.

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