Várias
vezes ele nos falou do capitão, de como eram amigos, daqueles de passar horas
bebendo e proseando sem terem que fingir nada, só curtindo a amizade que os
unia.
O
capitão, dizia o Thio, tinha seus hobbies, um deles o de fazer pães para os
amigos e, não raras vezes, só os mais próximos eram convidados para
experimentar as novas receitas que ele descolava sei lá onde. Nessas horas, as
das novas receitas, o fermento usado era aquele que ele cultivava com todo o
carinho e escondia dos olhares curiosos e invejosos.
O pão que o capitão sovava era famoso
entre os amigos. Sua sova era raivosa e eficiente e ele dizia que isso é que
fazia a diferença no final das contas.
Com a mudança do clima político, mas não
falo dos tempos atuais, falo da outra ditadura e não dessa que se prenuncia, tão
diferentes entre si que elas são. Mas sim, voltando, com a mudança do clima
político, o Thio foi percebendo o distanciamento de alguns amigos próximos e
compartilhados entre ele e o capitão. O Thio todos conheciam, esquerda
generosa, solidária e convicta, todos confiavam nele. Mas do capitão começou a
haver sim um distanciamento cauteloso que o Thio achava, inclusive, um baita de
exagero, afinal quem sova pão, más intenções não as têm! Esse ditado
sempre acompanhou nosso querido Thio e ele era convicto do seu imenso saber
escondido entreletras.
Mas aí veio o golpe, a ditadura, um
certo estranhamento e o Thio percebeu o quão errado estava aquele ditado. Na
realidade, nunca culpou a sabedoria milenar, mas sim as talvez raras exceções
que a vida moderna impõe a ela.
Preso, desapareceu por um tempão.
Preso, só soubemos depois. Preso, ainda achamos à época que ele tinha viajado
como sempre fazia e que, por conta da natural impossibilidade de mandar
notícias por conta das lonjuras de lugares que gostava de visitar, nos
consolamos em esperar seu retorno.
Voltou magro e machucado mas, até
hoje, nunca detalhou onde esteve naqueles dias tão imperiosos. E nem insistimos
em que nos contasse, cegos nunca fomos.
O Thio nunca perdeu sua postura
política, talvez ingênua por vezes, mas a base, a solidariedade como ponto de partida
e chegada de uma sociedade decente, sempre norteou suas ideias.
O Thio, dizia acima, superou muito o
que sofreu naqueles dias obscuros mas, conhecedor que é das nuances das sombras
que avançam sobre nós de tempos em tempos, sofre só de perceber o que está por vir.
Na última vez que nos contou sua
história, e nem faz tanto tempo assim, ele a complementou com a frase:
- É, caros, comi muito o pão que o
capitão amassou...
Seu olhar, que para nós já não é tão
misterioso, ainda escondia algo que respeitamos ser só dele, não insistiríamos
em saber algo que ele não quisesse contar. Por sorte, seu sorriso logo voltou,
e voltou junto com seu desejo que sovar um pão, alimento primeiro das
civilizações. Afinal, más intenções não as têm quem o sova.
Ou não deveria ter ao menos.
Caros amigos, reservem a data e horário: 14 de setembro, das 16 às 19 horas. Será o lançamento de meu novo livro de contos ("outros tantos", Editora PENALUX) na Livraria da Vila, Rua Fradique Coutinho, 915 na Vila Madalena, São Paulo. Ficarei muito contente com a presença de vocês.
Caros amigos, reservem a data e horário: 14 de setembro, das 16 às 19 horas. Será o lançamento de meu novo livro de contos ("outros tantos", Editora PENALUX) na Livraria da Vila, Rua Fradique Coutinho, 915 na Vila Madalena, São Paulo. Ficarei muito contente com a presença de vocês.
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