Em
1988, eu estava na Inglaterra fazendo o meu doutorado e calhou de estar em
Londres nos dias seguintes à eleição municipal de 15 de novembro. Lembro bem de
ver em um jornal inglês a notícia da eleição da Erundina para prefeita de São
Paulo. Naqueles tempos, notícias sobre o Brasil demoravam a chegar até nós, sem
a agilidade de hoje (atenção, garotada, o mundo já existiu sem internet). Era o início dos e-mails (não aqui, mas lá),
ainda restritos ao meio acadêmico mas já tínhamos, os brasileiros vinculados às
universidades inglesas, um grupo para troca de notícias. Mesmo assim, era tudo
muito lento, a carta ainda era o grande meio de troca de informações. Só para
se ter uma ideia, no ano seguinte, eu veria o famoso debate entre Lula e Collor
em uma sala na Universidade de Londres só depois da eleição propriamente dita e
já sabendo do péssimo resultado. Alguém havia conseguido trazer, de avião, uma
fita cassete com a gravação desse debate, para nosso delírio, que fingíamos não
saber o resultado só para manter ainda uma esperança. Se me lembro bem, nenhum
apoiador do caçador de marajás esteve presente naquela sala, tempos bons
aqueles.
Pois bem, voltemos um ano e lá estava eu lendo a matéria sobre a eleição da Erundina, a notícia que nos pegou de surpresa, pois apesar de tentar acompanhar as eleições à distância, não achávamos que ela teria chances de ganhar. Ela ganhou e eu, ganhei o dia! Ou vários dias, semanas, meses, anos, por assim dizer. Havia, mesmo no texto do jornal inglês, um clima de empolgação com as mudanças que viriam com ela, parecia até que aqueles tempos de traição e acordões estavam sendo deixados para trás. Telma e Luiza, quem viveu esses tempos, sabe do que falo. E que luxo ter um Paulo Freire como Secretário da Educação! Uma Marilena Chauí, um Paul Singer! Ao voltar para casa (inglesa na época) naqueles dias pós eleição eu escrevi um texto chamado “Esperança Erundina”, só por escrever, só para extravasar minha alegria e esperança.
Muita
coisa mudou desde então, mudei de casa algumas vezes, viajei, perdi escritos
pelo caminho. Mas algo não mudou, meu voto, sempre que pude votar, foi para a
Erundina. Recentemente, fui atrás desse texto escrito naquele longínquo 1988,
mas não o encontrei. Lembro que tinha uma versão digital em um daqueles meus computadores
primitivos e gravada em um disquete cinco polegadas, apesar do original ter
sido escrito à mão. Mas nem uma nem outra encontrei. Lembro-me de trechos desse
texto, algo ainda não foi totalmente consumido pelo tempo em minha memória, mas
preferi não tentar reconstruí-lo, trinta e dois anos fazem a diferença na vida
e na escrita de todos. Preferi, sim, lembrar que houve um tempo muito bom que
chamei para mim mesmo de Esperança Erundina e, que coisa, voltou de repente
em minha mente, apesar de tudo que temos vivenciado.
Renovou-se,
por assim dizer, no meio dessa tragédia que nos abate dia a dia.
Esperança Erundina, agora com Boulos.
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