Um. No
meio da pandemia, a minha carteira de motorista venceu. Acontece, mas o que fazer?
A sorte foi que ela venceu quando o Detran já tinha esquematizado todo um
sistema de renovação via online. Fui lá, entrei na página, cadastro daqui,
cadastro dali, senha acolá, leitura interminável de instruções desconectadas,
mas finalmente consegui entrar com um pedido de renovação, aproveitaram minha
foto e a biometria. Marcaram uma data para o exame oftalmológico (única coisa
presencial). Lá vou eu, ficha daqui, ficha dali, exame, dificuldades, como
sempre, na leitura biométrica, uma boa conversa com o médico que me atendeu e
pronto, renovada estava.
Mas o Detran avisava que não iria imprimir ainda a carteira
de motorista, só depois que a pandemia permitisse. Entendo perfeitamente, até
razoável. Qual a solução? Eles mesmos indicavam: baixar a carteira digital por
meio de um aplicativo. Lá vou eu, baixo um, cadastro daqui, senha ali, não
serve, a senha precisa ter tal e tal característica, acerto finalmente uma
senha aceitável em uma terceira tentativa até descobrir que o app que tinha
baixado não era o que precisava, ele me dava todas as informações sobre minha
vida de motorista mas, para baixar a carteira, precisava de um outro app mais
específico. Lá vou eu de novo, cadastro daqui, senha dali, não, essa senha não
serve, imbecil (e o palhaço com um caderninho do lado para anotar todas essas
senhas, cada uma com uma característica, não dá mais para usar a mesma para
todos os lugares).
Pronto. App baixado e funcional. Vou tentar baixar minha
carteira (que já tinha sido renovada, conforme o primeiro site me atestava) e,
surpresa, preciso de um par de números para confirmar a existência da carteira.
Um é o Renavam, que, acredito, é o mesmo da antiga carteira, e o outro, como
assim?, é um número que aparece na carteira impressa e depende do documento. Ãh?
Para ter a carteira digital, preciso da carteira impressa, mas não tenho a
carteira impressa por conta da pandemia. E a solução proposta do Detran para a
ausência da carteira impressa é usar a digital... Escrevi pedindo instruções e,
receio, irei esperar até a próxima pandemia por uma resposta.
Não, não há como dar certo...
Dois. Fui ao
banco retirar um dinheirinho. Fazia tempo que não ia fisicamente à minha agência
por conta da pandemia. Chego lá e tem uma folha A4 dizendo que a minha agência
tinha sido incorporada a outra agência distante, talvez, uns dez quilómetros,
aliás muito inconveniente para mim (a que tinha escolhido anos atrás ficava a
dez minutos a pé de meu trabalho e essa nova, sei lá onde...). Nenhum aviso prévio
ao palhaço do cliente sobre essa mudança, nenhuma opção de escolha ao palhaço
do cliente, nada, nada, surpresa total! Sabemos todos que, para manter seus lucros
abusivos, os bancos optaram por fechar agências e despedir pessoas (além de
contratar uma equipe de marketing para dizer o quão bonzinhos e caridosos eles
têm sido na pandemia) e, além disso, tratam os clientes como palhaços. O pior é
que escrevi à minha gerente e, pareceu-me, ela não entendeu minha indignação
com o fato de ser tratado de forma desrespeitosa e não profissional nesse caso,
ela simplesmente não percebeu nada, acho até que achava sinceramente que o
banco tinha agido de forma correta. Nem um pedido de desculpa por ter falhado
em, ao menos isso, me avisar, apenas uma ameaça velada que, se eu tentasse
mudar de agência, teria problemas decorrentes da mudança de cartões e outras
coisitas. A anestesia social está a tal ponto que não se percebe mais a falta
de cidadania no tratamento com as pessoas.
Não, não há como...
Nenhum comentário:
Postar um comentário