quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Não há como... - parte I

 


Um. No meio da pandemia, a minha carteira de motorista venceu. Acontece, mas o que fazer? A sorte foi que ela venceu quando o Detran já tinha esquematizado todo um sistema de renovação via online. Fui lá, entrei na página, cadastro daqui, cadastro dali, senha acolá, leitura interminável de instruções desconectadas, mas finalmente consegui entrar com um pedido de renovação, aproveitaram minha foto e a biometria. Marcaram uma data para o exame oftalmológico (única coisa presencial). Lá vou eu, ficha daqui, ficha dali, exame, dificuldades, como sempre, na leitura biométrica, uma boa conversa com o médico que me atendeu e pronto, renovada estava.

          Mas o Detran avisava que não iria imprimir ainda a carteira de motorista, só depois que a pandemia permitisse. Entendo perfeitamente, até razoável. Qual a solução? Eles mesmos indicavam: baixar a carteira digital por meio de um aplicativo. Lá vou eu, baixo um, cadastro daqui, senha ali, não serve, a senha precisa ter tal e tal característica, acerto finalmente uma senha aceitável em uma terceira tentativa até descobrir que o app que tinha baixado não era o que precisava, ele me dava todas as informações sobre minha vida de motorista mas, para baixar a carteira, precisava de um outro app mais específico. Lá vou eu de novo, cadastro daqui, senha dali, não, essa senha não serve, imbecil (e o palhaço com um caderninho do lado para anotar todas essas senhas, cada uma com uma característica, não dá mais para usar a mesma para todos os lugares).

          Pronto. App baixado e funcional. Vou tentar baixar minha carteira (que já tinha sido renovada, conforme o primeiro site me atestava) e, surpresa, preciso de um par de números para confirmar a existência da carteira. Um é o Renavam, que, acredito, é o mesmo da antiga carteira, e o outro, como assim?, é um número que aparece na carteira impressa e depende do documento. Ãh? Para ter a carteira digital, preciso da carteira impressa, mas não tenho a carteira impressa por conta da pandemia. E a solução proposta do Detran para a ausência da carteira impressa é usar a digital... Escrevi pedindo instruções e, receio, irei esperar até a próxima pandemia por uma resposta.

          Não, não há como dar certo...

 

Dois. Fui ao banco retirar um dinheirinho. Fazia tempo que não ia fisicamente à minha agência por conta da pandemia. Chego lá e tem uma folha A4 dizendo que a minha agência tinha sido incorporada a outra agência distante, talvez, uns dez quilómetros, aliás muito inconveniente para mim (a que tinha escolhido anos atrás ficava a dez minutos a pé de meu trabalho e essa nova, sei lá onde...). Nenhum aviso prévio ao palhaço do cliente sobre essa mudança, nenhuma opção de escolha ao palhaço do cliente, nada, nada, surpresa total! Sabemos todos que, para manter seus lucros abusivos, os bancos optaram por fechar agências e despedir pessoas (além de contratar uma equipe de marketing para dizer o quão bonzinhos e caridosos eles têm sido na pandemia) e, além disso, tratam os clientes como palhaços. O pior é que escrevi à minha gerente e, pareceu-me, ela não entendeu minha indignação com o fato de ser tratado de forma desrespeitosa e não profissional nesse caso, ela simplesmente não percebeu nada, acho até que achava sinceramente que o banco tinha agido de forma correta. Nem um pedido de desculpa por ter falhado em, ao menos isso, me avisar, apenas uma ameaça velada que, se eu tentasse mudar de agência, teria problemas decorrentes da mudança de cartões e outras coisitas. A anestesia social está a tal ponto que não se percebe mais a falta de cidadania no tratamento com as pessoas.

          Não, não há como...


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