quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A turma do Costa e o desafio de xadrez - Capítulo II


[[Aproveitando a semana da criança, estou publicando aqui a metade do segundo capítulo de meu e-book infanto-juvenil “A turma do Costa e o desafio de Xadrez”. O primeiro Capítulo apareceu no blog em 28/Maio/2K15]] 


Peão na quarta do Rei

Bebeto saiu apressado da escola, seguiu pela Rua João Cachoeira em direção à Rua Jesuíno Cardoso. Ele, normalmente, variava os caminhos que fazia para voltar à sua casa, por vezes dando uma volta enorme para chegar até lá. Ele gostava muito de passear pelo bairro, observando cada detalhe das casas por onde passava, gostava de ver as pessoas se ocupando de seus afazeres cotidianos, enquanto pensava nas várias atividades em que normalmente se metia. Mas hoje, no entanto, ele foi pelo caminho mais curto, direto para casa, pois não havia muito tempo a perder. Foi pensando no Desafio, relembrando suas regras.
O Desafio de Xadrez era uma disputa entre os colégios Costa Manso e Arquimedes Correia que o Bazar do Chico, lá da Rua João Cachoeira, patrocinava todos os anos. Aliás, o Chico ia pessoalmente até o local do “grandioso embate intelectual”, como ele próprio definia o Desafio, para desejar sorte a todos os competidores e fazer a sua propaganda. Alternando, a cada ano, os dois colégios como sede, o Bazar providenciava toda a infra-estrutura necessária para a disputa. Este ano o Desafio seria no Costa, naquele grande pátio coberto do centro do colégio, onde acontecia tudo o que realmente importava aos alunos.
Bebeto sabia o quão difícil era ganhar esta disputa, pois o Arquimedes vinha bem preparado, seus jogadores treinavam constantemente para aqueles jogos. A equipe de cada colégio tinha cinco jogadores e cada um jogava dois jogos. As rodadas eram nas manhãs de um sábado e de um domingo, em partidas que valiam um ponto ao vencedor e meio por cada empate. Ao final das dez partidas, se houvesse empate, então as equipes jogariam uma melhor de três mas com partidas mais rápidas, com no máximo vinte minutos cada, as chamadas partidas relâmpago. Nos dois últimos anos, o Costa tinha perdido por 6 a 4 depois das dez primeiras partidas, sem nem sequer levar o desafio para o desempate, o que deixava a todos por lá muito desanimados. Talvez fosse por isso que estava tão difícil agora encontrar novos jogadores dispostos a entrar na equipe.
“Mas esse ano será diferente, muito diferente!” pensou em voz alta o Bebeto e, percebendo que estava no meio da rua, respirou aliviado ao se certificar que ninguém o tinha escutado.
O Bebeto era um destes garotos que se envolviam em tudo no colégio e sempre com bastante ânimo. Quer seja um desafio de xadrez como esse, quer seja engordando a torcida para um jogo de handebol, de basquetebol ou o que seja. E quer seja também para organizar, normalmente junto à Thaís, um festival de cultura ou a feira de ciências ou até as festas juninas. Ele estava sempre pronto a ajudar, animado que era. Não era muito alto ou forte, cabelo negro escorrido na testa e sorriso constante na boca. A única pessoa que realmente conseguia tirá-lo do sério era a sua amiga Thaís que, consciente deste seu poder, aproveitava-se disto, frequentemente.
O Bebeto não era um bom jogador nos jogos de bola, ele preferia participar, nestes casos, da barulhenta torcida do colégio engrossando o coro do grito de guerra do Costa. Mas todo mundo reconhecia que xadrez era o seu forte. Ele passava horas estudando suas partidas, analisando os lances que tinha errado, conhecendo novas aberturas e defesas, aprimorando-se. Usava, além dos inúmeros livros de xadrez que tinha, a internet para estar sempre atualizado. Mesmo assim, sempre tinha tempo para as brincadeiras com os amigos, as baladas, o cinema... A Thaís ficava sempre intrigada querendo saber como ele conseguia tempo para fazer tudo aquilo, “você não perde uma festa, Bebeto!” ela costumava dizer. E o Bebeto só sorria, todo orgulhoso. Todos gostavam muito de seu jeito. 
Tão logo chegou à casa azul, que era como ele chamava a casa de esquina onde morava com sua família, foi correndo para a cozinha para ver se a comida já estava pronta. Queria almoçar rapidamente e voltar para o colégio. Tinha marcado a reunião com a Thaís e os outros candidatos à equipe do Desafio para as duas horas da tarde, tinha tempo de sobra, mas queria chegar antes, a ansiedade o acelerava.

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