Copio abaixo um texto de divulgação:
"Em uma época cheia de construções narrativas, em seu limite cada um, narrador ou ouvinte, terá ao final a sua própria e conveniente versão, mesmo partindo-se de dados e fatos supostamente comuns a todos. Os pigarreios fazem parte desse processo de (des)construção narrativa.
Um pigarreio, digamos assim,
longe de indicar uma forma verbal (“eu pigarreio”) ou tampouco significar o
subproduto sonoro do ato de pigarrear (isto é, um singelo pigarro) é, sim, uma
figura de linguagem, verbal em seus primórdios. É a pausa para reflexão do
escritor/narrador sobre qual o melhor caminho escolher para prosseguir sua
narrativa, qual a mais conveniente maneira de se escrever/relatar algo e tirar
proveito, assim, da narrativa construída. Mas é também, ao leitor/ouvinte, a
reflexão que permite adaptar o que se ouve ou lê ao seu particular universo,
aos seus particulares interesses. A decisão precede a argumentação, já foi dito
por aí.
Nesse contexto de possíveis
leituras sobre o mesmo fato, o autor transita em Pigarreios explorando, por vezes ao longo de poucos parágrafos,
versões diferentes de corriqueiros fatos dependendo dos olhares dos personagens
ou mesmo dos próprios narradores da estória, que um só não há. Nisso, explora,
de várias formas, os pigarreios intermediando vozes que irão narrar distintas
estórias. O pigarreio aparece quando um narrador escolhe sua versão predileta
da estória para contar na varanda da praia na passagem do ano, versão essa
limitada por suas escolhas ou específicos conhecimentos, mas também aparece no
relacionamento de uma personagem e seu terapeuta, nas lembranças que
permanecerão esquecidas apesar dos esforços. Aparece particularmente na
conversa aparentemente sincera entre as duas amigas, na expectativa decidida do
velho Silvio, no convívio semanal da família, na voz dos invejosos, na
disposição das cadeiras na mesa de jantar da casa de praia...
Nesse aspecto, um pigarreio
é uma demonstração de poder do narrador ou do ouvinte sobre o fato narrado e,
portanto, cabe a cada um descobrir de qual estória Pigarreios trata afinal."
Nenhum comentário:
Postar um comentário