Há tempos o setor 24 do Estádio da Luz é, digamos assim,
místico. E para o Thio Therezo, em particular, é o setor que tem o maior encanto
no principal estádio português. Pois foi lá que ele assistiu, estupefato, à derrota
de Portugal para a Grécia na final da Eurocopa de 2004. Chorou junto aos adeptos
portugueses, naquela que seria a grande decepção futebolística do país (doze
anos depois, Portugal iria ganhar o seu título, mas longe da Luz o que,
digamos, não é a mesma coisa...). Foi nesse setor também que o Thio viu o Real ganhar
do Atlético, ambos de Madrid, aquela final épica da Champions de 2014.
Não
por outro motivo, quando o Thio Therezo foi comprar ingressos para o jogo do
Benfica com o Ajax, ele escolheu justamente esse setor. Jogo crucial da
Champions League para a equipa dos encarnados.
É lá que encontramos o adepto cego que acompanhou tudo com
o seu fone de ouvido. Torceu, festejou o golo do Benfica que aconteceu bem na
nossa frente, sofreu no escuro o seu sonho de vitória.
Mas é
lá também que a menina de seus quinze anos xingou e xingou os jogadores e tanto
xingou que o Thio comentou com a gente que estava atualizando o seu vocabulário
de adepto português. Aliás, a torcida feminina do setor 24 foi bem atuante,
gritos e gestos.
Foi lá que ouvimos os adeptos (ouvimos mas não vimos
direito) do Ajax logo acima da gente, nível 2 do estádio. Pequena e barulhenta,
essa torcida se sobrepôs aos gritos de “Benfiiiiicaaa...” em quase todos os
momentos do jogo. E, antes mesmo de seu início, vimos as cadeiras vermelhas se
lançarem em longos vôos inimagináveis, reagindo assim aos cassetetes (cacetetes?)
e sprays pimenta da tropa de choques. De um lado a outro, de outro lado a um,
as cadeiras ao final trocaram de lugar, tão cansadas elas estavam daquela
rotina numérica.
É, foi lá que, bem atrás da gente, dois ingleses falaram e
falaram e falaram o jogo inteiro (e como falam os ingleses!), naquele tom
monocórdio e supostamente engraçado (e como eles se acham engraçados!). Parece
que até viram um ou outro lance da partida.
Torcida uniformizada japonesa nas primeiras fileiras.
Muitos adeptos do setor 24, muito mais do que de outros
setores, foram transportados instantânea e miraculosamente aos telões do
estádio. Aos pares, grupos dispersos ou mesmo sozinhos todos sorriram e acenaram
desfrutando de seus eternos momentos.
Lá, no setor 24 nada escapa... Nem o melô do fingidor:
O
jogador é um fingidor
Finge
tão completamente
Que
chega a fingir que é dor
A
dor que pretende quente
E lugar melhor não há para se ver o rasante que a águia
Vitória dá sobre os torcedores no pré-jogo antes de pousar gloriosa, como
gloriosa é a equipa dos encarnados, no meio do gramado. Ou ver o gandula passar
o jogo brincando com a bola, sonho de garoto, sonho de estar dentro do campo do
Estádio da Luz e brilhar.
Beijos calorosos, flertes desperdiçados na noite friazinha,
selfies abundantes, premières, repetições, reencontros, acertos de contas, desacertos,
cadeiras ocupadas por espertinhos, hot-dogs fedorentos, cervejas baratas.
Nada se perde estando no setor 24, nível 0, do Estádio da
Luz. Nada.
Cachecol comemorativo e gorro vermelho, despedimo-nos do
Thio logo que saímos do estádio e caminhamos para casa no friozinho de
novembro, acompanhados de outros torcedores e sonhos e cotidianos suspensos,
deixando para trás o setor 24 à espera de seus novos momentos de glória.
Ah! E
o jogo? Terminou empatado...
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