quinta-feira, 29 de novembro de 2018

iba áles, quatro


- moço bonito esse que caiu do céu hoje...
- que estória é essa, menina?
- barbudo, meio sujo, mas bonito!
- cada coisa que você me inventa, ach!
- ele se estrupiou todo na queda, sobrou pouco.
- ah é? depois você me mostra ele, tá?
Podia mostrar não, ficou com pena do moço bonito, abriu um buraco, jogou lá dentro, sacrilégio deixar aos urubus.
- o trovão antecipou a queda...
- como? céu azul, limpinho.
- céu azul, mas o trovão veio vindo de longe, nada se via por cima das árvores, foi crescendo, trovão foi crescendo e de repente o barulho dele caindo.
- assim?
- é! foi rasgando as folhas e se estrupiou todo, moço bonito, barbudo...
- ach, menina! que imaginação...
De repente, o silêncio veio adentrando o salão onde se reuniam todos, silêncio acompanhando os passos firmes do doutor.
Já lá na frente de todos, ele ajeitou o microfone e cumprimentou a todos.
- iba áles!
- iba áles! - responderam em uníssono as bocas caladas, as vozes inexistentes.


[[ Apresentação do Pigarreios. Nessa quinta-feira, dia 29 de novembro, o meu livro Pigarreios será apresentado na FNAC do Gaia Shopping, em Vila Nova de Gaia, Portugal. É na Av. dos Descobrimentos, 549. Lá pelas 19 horas. Apareçam!!! ]]

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