quinta-feira, 4 de abril de 2019

iba áles, oito

          o tempo prescreve certas ações.
          e quem há de culpá-lo, ao tempo, se gavetas não o alertam sobre papéis lá esquecidos? ou se papéis lá esquecidos não o alertam sobre frases lá depositadas? ou se as frases não o alertam sobre suas palavras, dignas ou não, lá alinhadas? ou mesmo se as palavras, se esquecendo de seus significados, não o alertam sobre suas responsabilidades?
          e quem há de censurá-lo, ao tempo, pelos recessos intelectuais impingidos a tantos partícipes de homenagens e quetais? ou pelas preguiças inerentes a quem chega a tal?
          e quem há de ignorá-lo, o tempo, pelas agressivas falas havidas e consequentes desmentidos, pelo esqueçam o que já disse, pelos habituais sem comentários?
          e quem há de incriminá-lo, ao tempo, por tanta má-fé vagando ao nosso redor?
          e quem há de culpá-lo, ao tempo, pelas ausências de calendários à vista? ou mesmo de outras representações temporais?
          e quem há de responsabilizá-lo, ao tempo, pelo caldo incerto em que palavras normativas se digladiam e por vezes até naufragam? ou pelo caldo incerto que queima quem dele se aproxima com intenções outras que as já centenárias?
          e quem há de perdoá-lo, ao tempo, tantas coisas passadas, tantos aborrecimentos intercalados?
          e quem, por fim, há de culpá-lo, ao tempo, pelo quase eterno descanso usufruído pelos doutos autodeclarados guardiães?
          o tempo, quiça inocente, prescreve suas ações.

          iba áles a todos! assim finalizava o termo de prescrição...

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